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terça-feira, 17 de maio de 2016

Elisabete da Trindade -- Parte 6


TÓPICOS DA SUA DOUTRINA ESPIRITUAL 


Isabel e o Amor

O Amor que atrai a criatura a Deus não é um amor da sensibilidade choramingueira mas um Amor forte como a morte, um fogo ardente que a água não apaga.

A alma que verdadeiramente Ama, torna dela prisoneiro o Senhor!

'Quem dedica sua vida a Amar Deus, atinge uma altura em que os regatos da alma se vão sumir no Oceano do Amor Divino, e que desde logo se parecem mares, de tal modo são imensos'.

'Só tenho um desejo, torná-Lo feliz dando-lhe a minha alma como morada e abrigo para que Ele esqueça ali, à força do Amor, tudo quanto de abominações fazem os maus'.

Isabel e o Fogo de Deus

Tal como S.Paulo disse que ' Deus é um fogo que consome', Isabel confirma que ' Ele saberá consumir-nos inteiramente, e nós iremos sumir-nos no foco imenso para ardermos à nossa vontade pela eternidade além'.


Isabel, a Luz e as trevas

Tenho de fazer a noite e o vácuo em tudo o que em mim há de potências naturais.
Só então é que terei encontrado o meu Senhor e só então a Luz que O envolve a Ele, me há-de envolver também a mim, essa Luz única, 'que tem a claridade de Deus!'
É no meio das noites escuras, das longas securas e desolações que devemos manter a Fé Nele e ficar na Paz Imutável sob a grande Luz...das longas noites de trevas.

Isabel e a Fé

Para Isabel a Fé é o face a face nas trevas deste mundo, enquanto não chega o face a face na Luz! 

Vamos a Ele em pura Fé!

Fé que nos diz que Ele está no nosso centro sempre, estejamos nós virados para Ele, ou dele afastados por um espesso véu de desolações e amarguras. 

É a Fé que supre a visão beatifica, impossível enquanto estivermos na terra.
'Era inabalável na sua Fé, como se tivesse visto o Invisível '! 

A alma já não se detém nos seus gostos ou sentimentos. 

Pouco lhe importa sentir Deus ou não; pouco lhe importa que Ele lhe dê alegrias ou sofrimentos; só o estabelecer essas diferenças lhe causam vergonha e desprezo por si própria quando ainda se deixa impressionar por elas, ela apenas crê no Seu Amor! E é tudo! 

'Vai em paz, foi a tua Fé que te salvou!'
'Tenho de procurar o meu Senhor que se esconde muito; mas nessas ocasiões eu desperto a minha Fé e fico logo contente por, apesar de não estar na Sua Presença, estar a fazê-Lo gozar da minha Fé e Amor'.


Isabel e a morte do ego

Isabel sabia que sem a morte (não a destruição mas o domar permanente) do eu mundano, não pode haver real progresso espiritual em permanência. 

Tal é a condição: é preciso estar morto, sem isso, pode-se estar escondido em Deus a certas horas, mas não se 'vive' habitualmente Nele, e isso dá origem a virem logo todas as sensibilidades e tudo o mais, para nos fazerem sair Dele, pois a alma não está em Deus por inteiro. 

O amor próprio só morre um quarto de hora depois de nós, dizia Francisco de Sales a sorrir...e realmente para domar esse eu tão arreigado, não houve Caminhante algum que não travasse as mais duras batalhas contra si próprio até morrer. 

Isabel explica como domar o eu: 

Pense nesse Deus que habita em si e de quem você é o templo.
Pouco a pouco a alma vai-se habituando a viver na sua doce companhia.
Compreende que é portadora de um pequenino Céu, em que o Deus do Amor fixou a sua morada. 
É como se estivesse a respirar numa atmosfera divina! 
Direi mesmo que sobre a Terra só está o seu corpo, porque a sua alma habita Naquele que é o Imutável.


Isabel e a Paz interior, o Descanso (Sabbat) no abismo.

Para Isabel a Paz espiritual é uma harmonia das potências na unidade, é a sinergia do seu esforço para um mesmo fim, tudo na alma está ordenado para Deus. 

É um dos efeitos da virtude da Caridade no seu esplendor, unindo todas as potências da alma numa Paz interior que, para os que aí chegam, é o Céu na terra. 

Sem esta união das potências não há Paz, apenas o ruído dos sentidos e a agitação do mundo que impedem a Unidade do Ser. 

A alma assim unificada deixa de temer as influências de fora e as dificuldades de dentro. 

Na Unidade das potências teremos a Paz Imutável, mesmo nas noites escuras deste mundo, antes de a termos no face a face pela eternidade , o repouso no abismo insondável de Deus que é prelúdio desse Sabbat (Descanso) eterno. 

"Nós que tivemos Fé, seremos introduzidos nesse Descanso".
S.Paulo 

Os glorificados têm esse repouso no abismo, por isso contemplam a Deus na simplicidade da Sua Essência.

Nota:
Sabbat é o dia em vida que pela lei se emprega todo para louvar o Senhor. 
O Descanso é o Louvor da Glória de Deus pela eternidade.


Isabel e a Eternidade 

Para Isabel a Eternidade começa-se mas nunca se acaba, está sempre em movimento, em progresso infinito para se unir 'mais um pouquinho' à Essência, falta sempre um 'pouquinho' mais para quem Ama infinitamente e não se satisfaz na pura passividade contemplativa. 

A sua tendência para a Perfeição é eterna, 'que cada minuto da eternidade me leve mais longe na profundidade do Vosso Mistério'. 

Definia a vida espiritual como 'Uma Vida Eterna começada e sempre em progresso'!

Isabel e a Hóstia, a Comunhão e o Santissimo Sacramento

Para Isabel o SS é a visão em substância na terra da Essência Divina no céu.
Contemplá-lo em vida é nos recolhermos Nele e estarmos abrigados na Sua fortaleza e Amor enquanto não vem o momento de a Ele nos unirmos em Espirito e Luz, momento para o qual Deus nos predestinou no Seu querer eterno e imutável. 

Ela pedia ao Sacerdote que dava a missa que '' Quando na hóstia humilde se encarnar a Essência do Filho Divino, me enterre na profundidade desse mistério para eu me consumir nos fogos do Seu Amor e ofereça-me ao Pai junto com o Cordeiro Divino como hóstia de Louvor à Sua Glória''. 

Ou ainda '' Lance-me nesse Cálice para que minha alma seja banhada inteiramente no Sangue do meu Cristo, de que tenho sede, a fim de ser toda pura, toda transparente, para que a Trindade se possa reflectir em mim com num espelho''. 

Pela Consagração, movimento ascendente, o sacerdote eleva a Hóstia para ser consagrada pela Trindade.
O Cristo presente na hóstia é oferecido ao Pai junto com as almas dos presentes.

Na Comunhão, movimento descendente, distribui aos fiéis a Hóstia já consagrada.
O Cristo já consagrado se dá aos presentes e estes o incorporam nas suas vidas. 

A comunhão seria pois o incorporar interior do Cordeiro para com Ele ser parte do mistério do sacrificio Divino em Louvor e para Gloria de Deus. 

Para " Sede Santos porque Eu sou Santo".

A Divindade da nossa alma

Ah! Se nós pensássemos mais nas origens da nossa alma, Ah! Como nos pareceriam pueris as coisa deste mundo! Como nós saberíamos sempre desprezá-las tal o abismo que as separa das coisas de Deus.
A alma que tem consciência da sua Grandeza, passa para além de todas as coisas, passa para além de si mesma. 

"Nao peças o teu Amo a ninguém da terra ou do céu, pois Ele é a tua alma e a tua alma.... é Ele!".

Qual é o segredo da felicidade?

Não fazer caso de nós mesmos, negarmo-nos a toda a hora. 
A alma mais livre é a que se esquece de si mesma.
Essa alma morre a cada instante e por isso é invencível perante as coisas que passam e por mais que façam as criaturas, precisamente porque ela própria é que passa acima delas para visar apenas a Deus.

Como matar o orgulho?

Mata-o pela fome, ao alimentares apenas a humildade. A cada dia persiste em matá-lo e serás livre.

O Bom e o mau orgulho 

O orgulho é mau, se a tua vontade o acompanha. 
Só quando a nossa vontade se faz cumplice desses movimentos de orgulho é que ele é mau e de evitar. 

Todas as faltas que te escapam-como tu dizes- sem mesmo teres pensado nelas, denotam sem dúvida um fundo de amor próprio, mas ...isso, meu amigo, isso faz de algum modo parte de nós!... 

Deus só te pede que não fiques parada, nunca te demores nesses movimentos de orgulho, voluntariamente, quer dizer, por tu mesma quereres. 
Seria mau, sim, se actuasses inspirada por um tal movimento consciente de orgulho.  

E se após alguma falta de orgulho que te escapou, vieres a reconhecê-la, olha que não precisas de desanimar, porque esse desalento seria ainda o orgulho a irritar-se!....Deves, sim, ir 'escancarar' toda essa tua miseria aos pés do Senhor e pedir-lhe que tenha piedade de ti, e te livre desse mal! 

Deus gosta tanto de ver uma alma reconhecer a sua impotência! 

Quando isso acontece "O abismo da Imensidade de Deus vê-se face a face com o abismo do 'nada' da criatura que se esvaziou do mundo e Deus abraça-se a esse 'nada' e escoa-se para esse vazio, 'enchendo a alma com a Sua Presença'.
Santa Angela de Foligno


Qual a vida ideal da alma?

É viver no sobrenatural, não já no agir natural.
É ter consciência que Deus habita em nós e irmos a Ele para tudo! Quando assim se faz, nunca mais se é banal, nem mesmo quando se fazem as acções mais ordinárias, pois não se fica preso a essas coisas mas se passa além delas! 

Uma alma sobrenatural nunca trata com as causas segundas, apenas trata com Deus!
Assim simplificada a alma se reduz à Unidade, ao Único necessário e é verdadeiramente livre e grande pois encerrou a sua vontade na Vontade de Deus! 

Santo não é quem faz coisas extraordinárias e milagres espectaculares mas quem cumpre os seus deveres ordinários de uma maneira 'divina'.

Os niveis da eternidade

O nosso grau de Glória há-de ser o grau de graça em que Deus nos vier a encontrar no instante da morte!...Deixa, pois, que Ele acabe em ti, a obra da Sua predestinação.
 
Escorregar ao abismo

 Desce todos os dias com a tua Fé pelo plano inclinado que conduz ao abismo, pois um abismo atrai outro abismo e é lá no fundo que se dá o choque divino, o face a face entre o abismo do nosso 'nada' com o abismo da Imensidade do 'Tudo' de Deus e aí ao morrermos para nós mesmos recebemos em troca a Vida verdadeira.


A sua missão junto de Deus depois de morrer

A sua missão junto de Deus: “Parece que no céu a minha missão será atrair as pessoas, ajudando-as a saírem de  si, para aderirem a Deus por movimento simples e amoroso, e guardá-las no grande silêncio interior que permite Deus imprimir-se nelas e transformá-las nele”. 

Ajudar as pessoas a saírem de si mesmas, a se libertarem, com o esforço pessoal e acolhimento da graça de Deus que realiza a transfiguração, eis a sua missão junto de Deus. 

A sua intervenção silenciosa será a de conduzir as pessoas à libertação total;  levá-las à corrente de vida divina; mergulhá-las no oceano da pacífica Trindade, a partir desta vida. 
Elisabete lembra que é preciso ir a Deus por um movimento inteiramente simples e amoroso, pois o “nosso Deus é fogo abrasador”.

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