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sábado, 13 de fevereiro de 2016

Virtudes Teologais - A Esperança


A Virtude da Esperança

O homem que se procura conhecer, porque nasceu e qual a sua missão em vida, sente que lhe falta um Bem perfeito e eterno
Esse Bem é Deus, nosso Pai e Senhor, de quem somos ao mesmo tempo filhos e servos.

O homem foi criado para uma realidade maior que o mundo e suas limitações, foi criado para o próprio Deus, para ser preenchido por Ele, por isso a imperfeição do mundo e das criaturas não satisfaz a sede de perfeição e infinito do homem, que viveria sempre inquieto e angustiado se neles colocasse a sua Esperança como meta a atingir, daí procurar o Bem perfeito e eterno pela virtude da Esperança. 

Pela virtude da Fé que adquiriu pelo Entendimento ou Inteligência sobrenatural, sabe agora que esse Bem existe dentro de nós, que não é fácil de ser alcançado mas que é possível. 


Essa Fé da possibilidade fornece-lhe a Esperança de o alcançar. 
A Esperança é, portanto, a verdadeira dimensão da Fé; é o caminhar da Fé para o seu objeto. 

Por meio da Fé, o homem encontra o caminho da vida autêntica; mas somente a Esperança pode mantê-lo em tal caminho. 
Por isso, a Fé em Deus Criador faz com que a Esperança se transforme em certeza; e a Esperança confere amplo horizonte à Fé, levando-a à Vida. 

A Esperança é assim como que um movimento desejoso de se unir a esse Bem, ainda ausente, mas que pela nossa Fé sabemos possível. 
Porque a Fé só vê o que existe, ao passo que a Esperança vê o que existirá... no tempo e por toda a eternidade’.

A Esperança é uma energia interna em movimento, que cresce a cada momento e que nos torna capazes de derrubar muros e obstáculos que considerávamos intransponíveis. 

Movimento que exige a nossa contribuição, como um esforço, um desejo da nossa parte de a ter e nesse espirito sabermos esperar pela Graça, pela parte que vem de Deus, e que fortalece e firma em nós essa virtude.
Sózinhos com nossas forças ou apenas à espera de ajuda são atitudes que não nos avançam na Esperança. 



Assim a Esperança se pode definir como a virtude Teologal que nos faz desejar a Deus como único Bem que nos faz falta e aguardar, que nos vamos mesmo unir a Ele, em serenidade calma mas firme pela nossa Fé. É uma virtude infusa pois é um Dom que Deus em nós colocou para ser por nós desenvolvido. 

A Fé usa um entendimento sobrenatural para conhecer a Deus, a Esperança fixa na nossa memória que é possivel alcançar Deus, objecto último da nossa Esperança.
Objecto único pois levanta as nossas almas do mundo finito e seus bens perecíveis e as conduz à Perfeição infinita e eterna a que a nossa alma aspira desde que nasceu neste mundo.

O que eu creio pela Fé e o que eu compreendo pela teologia, eu o possuo e faço meu pela Esperança.
Sem a Esperança, a nossa Fé só nos dá distantes relações com Deus. Sem o amor e a Esperança, a Fé só O conhece como a um estranho. 

Pela Fé conhecemos a Deus sem O ver.
Pela Esperança possuímos a Deus sem sentir-Lhe a presença. 




O que a Fé e a Esperança não nos dão, é somente a visão clara d’Aquele que nós já possuímos. 
Somos-Lhe unidos na obscuridade, porque temos de esperar.

Esperança significa expectativa, espera. "Os que esperam no Senhor, renovam as suas forças, sobem com asas como águias, correm e não se cansam, caminham e não se fatigam" (Is 40,31). 


A Esperança é o limiar da contemplação, porque a contemplação é uma experiência das coisas divinas, e nós não podemos experimentar o que não possuímos de algum modo. 

Pela Esperança nós tocamos na substância daquilo que cremos; pela Esperança já possuímos a essência das promessas do amor divino.

A Esperança procura não sómente a Deus e os meios de atingi-lo; mas, sobretudo procura a glória de Deus, revelada em nós, manifestação final da sua infinita misericórdia que pedimos ao dizer: ‘’Venha a nós o vosso Reino.” 

Representa-se por uma âncora , ‘Nela temos como que uma âncora da nossa vida segura e firme’ (Hb 6,19). 


Segura e firme porque ancorada não na terra, mas no céu, não no tempo, mas na eternidade.
Seguros pela âncora da Esperança ao céu, é tempo de avançar lançando a vela ao vento.



O que a Esperança nos traz

A Esperança une-nos a Deus, desapegando-nos dos bens terrenos, que não nos satisfazem dada a sua imperfeição e duração. 
Se lutamos por bens que pouco duram, quanto mais não lutaremos pelo Bem que não tem fim?

A Esperança diviniza as nossas orações e concretiza nossos pedidos de termos Deus presente em tudo o que fazemos no dia a dia. 

A Esperança aumenta as nossas energias pela perspectiva de recompensa sobrenatural dos nossos esforços e dá-nos aquela coragem e destemor que a certeza do triunfo sobre todos os obstáculos produz . Que pode temer quem tem Deus a seu lado? 
Porque receias, pecador, se estás decidido a fugir do pecado? 
Fracos de nós mesmos, mas tendo Deus como aliado quem nos pode parar neste caminho para Ele? 


Ela não é uma utopia ou uma disposição interior que nos permite construir mundos imaginários; é inteiramente concreta: nas situações em que paralisamos ou desesperamos e pensamos que já não há nada a ser feito, eis que a Esperança se ergue dentro de nós e com a força do Espírito Santo diz: ‘Tente outra vez; seja mais humilde; reze, reze mais; não desista, ainda há solução; suporte com paciência... Ela coloca sempre à nossa frente novas possibilidades. 


Ponho a minha Esperança no Senhor. 
Minha alma tem confiança em Sua palavra.
Minha alma espera pelo Senhor, mais ansiosa do que os vigias pela manhã.

Salmo 129


Papel da Esperança no futuro da nossa alma e da Criação

O futuro de Deus é absolutamente imprevisível, porque é o futuro absoluto, do qual o homem não pode dispor. Por isso, a Esperança, antes de tudo, põe o homem em atitude de espera, o que não significa inércia ou falta de compromisso da sua parte. 

A Esperança é saber que as obras realizadas no mundo não se perderão na caducidade da morte, mas passarão com o homem para a nova vida. 

O futuro da Esperança não é o horizonte vazio de esperar indefinido, mas a plenitude real do homem em todas as dimensões fundamentais de sua existência: em sua abertura ao absoluto, que será saciada com a visão de Deus; na comunhão interpessoal, que será consumada e expressa mediante a participação de todos na glória de Deus; na relação com o mundo e com a história, que não será destruída, mas assumida na nova dimensão espiritual da humanidade. 

A Esperança estimula o homem a dar-se, ao mesmo tempo que lhe permite aceitar sempre novas possibilidades do futuro que espera. Sobretudo, porém, alimenta no homem o sentido da contemplação e da gratidão por tudo que recebeu. 

‘A consciência orante está à espera e sabe que o que espera não pode vir de si mesma, mas deve vir de Deus. 
Portanto, não se caracteriza unicamente por esperar, mas também, na espera, pelo reconhecimento do dom, que é o próprio Deus e tudo o que vem de Deus’.



Viver com a Esperança de Deus, significa viver como emigrantes prontos para a partida. 

A Esperança se transforma em atitude ativa, alimentada pela coragem e pela fortaleza de ânimo, a qual fomenta e estimula a resistência no sofrimento e a tensão na luta. 
Desta forma, o homem de Esperança é chamado a viver seu compromisso com o mundo não para continuar sendo o que é, mas para se transformar continuamente e ‘’chegar a ser o que lhe foi prometido que será. ” 
 

A prática da Esperança

Temos uma pergunta fundamental: ‘Como manter viva a Esperança, não só em nossa vida, mas também de modo a transbordá-la para o mundo desesperançado? 

Toda a ação séria e recta do homem é Esperança em acto, com o nosso empenho contribuir a fim de que o mundo se torne um pouco mais luminoso e humano, e assim se abram também as portas para o futuro.

Assim, por um lado, da nossa ação nasce Esperança para nós e para os outros; mas, ao mesmo tempo, é a Grande Esperança apoiada nas promessas de Deus que, tanto nos momentos bons como nos maus, nos dá coragem e orienta o nosso agir.” 

Importa para a fortificar em nossa memória de meditar regularmente nos motivos que se funda, no Bem único que almeja, na Perfeição e Infinitude desse Bem.

O céu é a nossa pátria, a terra apenas um desterro, no céu temos a nossa felicidade eterna, na terra apenas temos alegrias efémeras. 

Importa nos esforçarmos continuamente em resistir às tentações dos sentidos e do mundo e ao mal das nossas tendências interiores pecadoras. 

A nossa contribuição acima ajuda a sermos dignos de receber a Graça de Deus que vem em auxilio de quem por Ele aspira com o coração puro e desapegado. 

Mas é preciso trabalhar como se tudo dependesse apenas de nós, para podermos estar receptivos a perceber que nesta obra de Perfeição em nós, tudo afinal depende Dele e da Sua Graça. 
Na prática só temos de nos focar no nosso próprio esforço, pois da parte Dele nada é recusado a quem 'ora e labora'. 

Que utilidade tem em esperar da graça, se não me atrevo a fazer o ato de vontade que corresponde à graça? 
Como tirar proveito de uma entrega passiva de mim mesmo à vontade de Deus, se me falta a força de vontade para obedecer aos seus mandamentos? 
Por conseguinte, se eu tenho confiança na graça de Deus, devo também mostrar confiança nos poderes naturais que Ele me deu, não que sejam minhas estas faculdades, mas por serem dádiva sua. 
Se creio na graça de Deus, devo também levar em conta a minha vontade livre, sem a qual a sua graça seria inútil na minha alma. 


Almas mais adiantadas, unem-se firmemente na confiança no céu, onde já visualizam o seu lugar e onde já estão em Esperança junto ao Pai, esperam nele até mesmo no meio das adversidades e provações da vida, dizendo que tudo o que lhes venha é para o seu Bem.

A Esperança fá-los viver no céu e para o céu, é para o céu que dirigem todos os seus desejos e seus corações. 

Pedem continuamente que o dom ultimo da perseverança final lhes seja dado pela misericórdia divina e imploram ao céu uma boa morte como término de uma vida dedicada à salvação da sua alma e de continuo louvor ao Criador, nosso Pai e Senhor.

A vivência da Esperança transmite paz e segurança ao dia de hoje e faz, assim, caminhar, sem medo, rumo a um horizonte futuro. 



Os inimigos da Esperança

À virtude da Esperança opõem-se, por defeito, o desespero e, por excesso, a presunção. 

Desespero e Desânimo

“Pelo desespero, a pessoa humana deixa de esperar de Deus sua salvação pessoal, os auxílios para alcançá-la ou o perdão de seus pecados. O desespero opõe-se à bondade de Deus, à sua justiça porque o Senhor é fiel as suas promessas e à sua misericórdia.”

“O desespero é o amor de si mesmo em sua forma extrema e absoluta. Chega alguém a isso quando volta deliberadamente as costas a qualquer ajuda alheia para desfrutar o luxo amargo de se saber perdido. Em todo homem se esconde alguma raiz de desespero, porque em todo homem há o orgulho que vegeta e do qual brotam os cardos e as flores mal cheirosas da autocomiseração, logo que sentimos falhar nossos próprios recursos. Mas como nossos próprios recursos inevitavelmente falham quando deles necessitamos, somos todos mais ou menos sujeitos ao desânimo e ao desespero. O desespero é o desenvolvimento máximo de um orgulho tão grande e obstinado, que escolhe a desgraça total da danação, de preferência a aceitar a felicidade das mãos de Deus e, assim, reconhecer que Ele nos é superior e que não somos capazes de realizar nosso destino sozinhos. ”

É o desânimo, pecado dos orgulhosos e cobardes. 

Dos orgulhosos porque nasce do amor próprio, gostaria de se comprazer em si mesmo, não podendo, desanima. 
Dos cobardes porque fogem de um combate onde lhes bastava a oração sincera para ter a certeza da vitória. 

Quem imagina por fraqueza de vontade que não se consegue reformar, desanima e começa a desesperar da salvação e assim a compromete verdadeiramente. 


Presunção

Há duas espécies de presunção. 
Ou o homem presume de suas capacidades, esperando poder salvar-se sem a ajuda do alto, ou então presume da onipotência ou da misericórdia de Deus, esperando obter seu perdão sem conversão e a sua glória sem mérito próprio. 

Cobardia e medos infundados 

São os temores excessivos de uma memória ainda não purificada do passado, quando as almas se concentram demais em si mesmas e temem por cobardia avançar na liberdade da Esperança que a Fé em Deus lhes abriu as portas. 

Assim desfalecem e ao mesmo tempo injuriam a Deus, privando-se do Seu auxílio e das Suas bondades divinas e perdendo a coragem que já iam adquirindo. 

Homem de Fé que caminhas para Deus, nunca ponhas de lado a tua Esperança nessa motivação pois assim te abandonas ao demónio.

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