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quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

A Misericordia de Deus e o inferno




Como pode existir o inferno se Deus é bom e nos ama eternamente?  


O inferno longe de ser incompatível com a santidade de Deus, resulta precisamente do fato de que Deus ama a criatura e ama-a sem poder retirar-lhe o seu amor.

Sim, precisamente porque Deus ama, e ama irreversivelmente, é que o pecador no além pode verificar que Deus é o Sumo Bem, ao qual ele disse um NÃO voluntário e definitivo.

Se Deus retirasse seu amor e esquecesse ao pecador, este não sentiria dilaceração íntima (pois Deus não lhe seria mais o Sumo Bem), mas estaria voltado unicamente para os seus ídolos voluntariamente escolhidos.

E, assim, não sofreria o inferno.
O amor de Deus é consolador para o homem peregrino na terra, mas muito doloroso ( é o seu inferno) para quem lhe disse um NÃO definitivo.

Portanto, Deus não subtrai o amor pela criatura e, justamente por isso, é que dá ocasião a que o pecador ressinta para todo o sempre a imensa tristeza de se ter incompatibilizado com esse amor, que o continua a sustentar e atrair.




Em que consiste o inferno?

Deus não criou ou cria o inferno… o inferno não é um espaço dimensional nem é um lugar’, mas sim um estado de alma… estado de alma no qual o próprio indivíduo se projeta quando rejeita radicalmente a Deus pelo pecado grave; começa então o estado infernal, do qual o pecador se pode insensibilizar pelo fato de não dar atenção ao seu íntimo ou à sua consciência, mas que saltará à tona quando ele não mais puder escapar à voz da consciência.  

Vê-se, pois, que não é Deus quem condena ao inferno; ao contrário, Deus quer a salvação de todos os homens.

É a própria criatura que lavra a sua sentença ou que se condena quando diz um Não total a Deus, que é o Sumo Bem, o único Bem que o ser humano não pode perder.

Mais precisamente: o inferno é o não amar… não amar nem a Deus nem ao próximo.



Todo homem foi feito para o Bem Infinito, como notava S. Agostinho (+430): “Senhor, Tu nos fizeste para Ti, e inquieto é o nosso coração enquanto não repousa em Ti” (Confissões I,1).  

Quem não repousa em Deus, inquieta-se e angustia-se, à semelhança da agulha magnética, que foi feita para o Norte, que a atrai; quando alguém a desvia do seu Norte, ela se agita e só pára quando se lhe permite voltar-se para o Norte.

Conseqüentemente, vê-se que o inferno é mesmo algo de lógico, pois é a violência que o homem comete contra si mesmo. 



E a Misericórdia de Deus? 
Deus obriga o homem a amá-Lo ?

Deve-se responder que, sem dúvida, Deus é infinitamente misericordioso, mas não é “tiranicamente” misericordioso. 

Com outras palavras: Deus não impõe a sua misericórdia ou o seu perdão a quem não o pede ou não o quer receber. Deus não obriga o homem a amar a Deus

Nisto consiste precisamente a grandeza e a nobreza de Deus. 
Ele não violenta nem força a criatura a se abrir para a misericórdia. 

Ora na outra vida não há possibilidade de conversão.  
A morte fixa o ser humano em sua última opção, de modo que após a morte ninguém pode mudar suas atitudes. 

Assim o inferno é o testemunho de que Deus respeita a sua criatura e não lhe tira a liberdade que lhe deu para dignificá-la.

O inferno é a conseqüência do amor irreversível de Deus. 



Tal amor se dá e não volta atrás; não pode voltar atrás precisamente porque é divino e não pode contradizer a si mesmo .

Por isto Deus ama a criatura que não O ama e se afastou dele. 

O fato de que Deus continua a amar, é que atormenta o pecador ; este percebe que se incompatibilizou com o Supremo Bem e o Sumo Amor. Donde se segue que o inferno é compatível com a Grandeza e a Santidade de Deus. 

Uma imagem servirá para ilustrar de algum modo o que é o inferno: observe-se o caso de um jovem que foge de casa para ir viver com seus colegas numa república de estudantes, porque “papai é cafona e mamãe é quadrada”… 

Pai e mãe que amam o filho, se preocupam, e resolvem enviar recados, perguntando ao jovem como está,… se precisa de alguma coisa,… quando voltará… 

Estas interpelações do amor incomodam ou atormentam o filho; este se daria por mais tranqüilo se pai e mãe desistissem de o amar e o esquecessem. 

O fato, porém, é que pai e mãe não podem deixar de amar seus filhos e de mostrar-lhes o seu amor. 



Paralelamente Deus não pode deixar de amar suas criaturas, mesmo quando elas se afastam do Pai celeste; a consciência desse amor atormenta o pecador que se incompatibilizou com Deus. 

Se o Senhor retirasse ou cancelasse o seu amor, o pecador não sofreria tanto, porque estaria totalmente voltado para seus ídolos, sem ser atraído pelo Bem Supremo. 

Mas, como dito, Deus não se pode desdizer ou não pode dizer Não após ter dito Sim (aquele Sim proferido quando criou cada ser humano)

Nisto está a nobreza de Deus, que é paradoxalmente motivo de tormento para quem não responde ao amor divino. 

Em suma, é altamente consolador ser amado por Deus, mas também é assustador ser amado por Deus e não O amar (é estar no inferno).


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