Mistérios e Iniciações Òrficas
Grande educador da humanidade, foi iniciador dos cultos de Dionísio e dos mistérios órficos, prometendo a eternidade a quem neles se iniciasse.
Como a todos os heróis místicos, as lendas multiplicaram-se: mas a lenda mais difundida e sugestiva, é a da sua descida e regresso do Mundo dos Mortos, o Hades , onde a regra era enquanto caminhassem pelas trevas do Hades, em caso algum, poderia olhar para trás, até que atingissem o exterior. Ele não cumpriu pois foi assaltado por uma 'dúvida' e não resistindo, olhou para trás, transgredindo a regra e assim ”morrendo pela segunda vez…”, alegoria que o caminho é sempre em frente...o passado já passou ...
Os Mistérios Órficos eram um culto que pretendia explicar o começo do homem (descida da alma), a sua personalidade e o seu destino (subida da alma).
Os ensinamentos, a liturgia, os rituais funerários, a ajuda, eram ministrados pelos Mistérios, pois o homem inteligente, conhecedor, pode escolher o lado do Bem.
Não o ignorante.
Origem dos deuses
No início era a Noite, e não o Caos. A Noite é “a geradora universal”.
Quanto aos deuses: “Zeus é o começo, o meio e o fim de todas as coisas”.
A seguir, Zeus criou um numeroso panteão no qual é preciso salientar Dionísio-Zagreus que terá realce fundamental no culto do orfismo.
Mas tudo emanando do Uno (Mônada), para a tríade e desta para a Ogdóade de oito imortais: Fogo, Água, Terra, Ar (Urano), a Lua (Selene), o Sol (Helios) Fanes e a Noite.
Os quatro primeiros elementos (deuses) são personificados pela deusa-mãe, representando Orfeu o seu filho, que vê e nomeia os deuses através de fórmulas mágicas, fórmula essa escondida em grupos de letras (números em Pitágoras).
Origem do homem
O Homem é fruto das cinzas de um crime: Dessas cinzas, nasceram os homens, com sua dupla natureza: o corpo, o mal, da natureza dos Titãs; e a alma, o bem, de natureza divina, uma centelha divina de Dionísio, deus da fertilidade e da morte.
A verdadeira questão é saber qual a natureza que vai prevalecer (dualismo do Zoroastrismo).
Doutrina Órfica
Nos Mistérios órficos as águas do esquecimento do rio Letes não fazem a alma esquecer a existência terrestre, ao contrário, fazem-na esquecer o mundo celeste e levam-na de volta à Terra, reencarnando noutro corpo, um novo devir.
Não beber da água do Letes era conservar a memória de existências anteriores, e com isso o fim do ciclo de reencarnação, ou pelo menos permitir, com essas lembranças, corrigir os passos dados no caminho errado.
Os Mistérios providenciam instrumentos para a viagem: ritos funerários, ritos de purificação e a unção dos doentes.
Pelas lamelas encontradas, forneceriam mesmo instruções para ultrapassar a viagem depois da morte e de como a alma se deveria comportar : “À esquerda da morada do Hades, tu encontrarás o Lago da Memória, e os guardiões estarão lá. Diz-lhes… eu sou o menino da Terra e do Céu estrelado, mas estou morrendo de sede. Dá-me rapidamente a água fresca que flui do Lago da Memória”. ( Como acima se disse deviam conservar a memória para não reencarnar de novo e assim terminar o ciclo das reencarnações, pelo que nunca deviam beber da água do Rio Letes, água do esquecimento mas sim deste Lago da Memória).
Em uma outra lamela a alma informava que pertencia a um culto de Mistérios: “Venho de uma comunidade de puros, ó puro soberano dos Infernos”.
Ao que Persófone, a Rainha do Hades, replica: “Saúdo-te, toma o caminho da direita em direção aos prados sagrados e aos bosques de Perséfone”.
Era o prêmio que todos os iniciados procuravam!
Os mistérios fornecerão ainda um conjunto de regras de vida (vida órfica) destinada a um bem morrer, de alma pura. Para isso deveria seguir um conjunto de regras de todo o gênero:
Dieta vegetariana,constante purificação do corpo, pela água: ritos de purificação que se estendiam ao cadáver antes da alma iniciar a viagem.
Pois se entendia que tudo o que era impuro era abominável para os deuses.
A purificação era não só individual como coletiva.
Levar uma vida de contemplação, para atingir o êxtase, um estado em que a alma se aproximava da Harmonia universal.
Para tal a música era um auxiliar precioso pois proporcionava-o.
Participar nos rituais mágicos onde, pelo êxtase e por fórmulas mágicas o iniciado se aproximava dos deuses.
A Iniciação
Como todas as Escolas guardavam segredo sobre os seus ensinamentos, pelo que comportava um Juramento de Silêncio e uma Iniciação.
Esta era uma opção pessoal, mas o candidato era previamente avaliado sob o ponto de vista físico, de conhecimentos e psicológico.
Só depois era admitido numa cerimônia ritualística.
A iniciação constaria de um Juramento de Silêncio e de um ritual de iniciação em que o neófito era levado para uma cave onde decorria a mesma e onde lhe eram ministrados os primeiros conhecimentos escondidos nos símbolos, palavras (e números), e as fórmulas mágicas.
Deveria terminar com um compromisso de honra, solene.
Também ele com significado oculto para se manter secreto, mesmo que conhecidas as palavras.
É referida por muitos escritores a fórmula desse juramento que apresenta várias versões muito semelhantes. “Comprometo-me a honrar e venerar, na cripta, a Eros das Montanhas, o grande sagrado carismático, a ladrar três vezes, causando medo sagrado”.
A interpretação seria a de honrar Deus e venerar o seio da Deusa-mãe onde se dá a concepção do Filho, na presença do Deus masculino, criador, Eros e das três Deusas femininas (Ereshigal, Hecate e Brimo), representando as transformações da Deusa-mãe.
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