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sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

O Bardo Thodol - Livro Tibetano dos Mortos 6




O Bardo Thodol - Livro Tibetano dos Mortos

Parte 6


A 2 ª Fase do Bardo 

O Chonyid Bardo  

O morto que não se fixou nem na Clara Luz Primária nem na secundária e não alcançou assim a Libertação, passa agora para uma nova fase onde surgem as ilusões kármicas. 

Surgem flashes de imagens, sons, luzes, raios que atemorizam, e causam fatiga e descontrole ao morto.

Nota: 
A morto vivencia a nova Realidade como incerta (daí a fadiga e descontrole) pois a vislumbra através da contraparte Bardo (que é um estado intermédio, incerto) das faculdades ilusórias-limitadas do corpo terrestre e não da consciência suprahumana desobscurecida do estado da Clara Luz). 

Aqui de novo são preciosas as práticas espirituais-religiosas que tiver feito em vida para se manter em controle da situação assim como as palavras dos ‘assistentes’que lhe dizem:

‘’Ó nobre filho, não te apegues, por gosto ou fraqueza, a esta vida, pois não tens o poder de aqui permaneceres, nada ganharás com isso a não ser errar neste labirinto( Samsara), não sejas fraco, lembra-te da Preciosa Trindade’’.

‘’Ó nobre filho, quando teu corpo e mente estiverem separados, deverás ter vislumbrado a Clara Luz da Verdade Pura, viva, subtil, intensa, deslumbrante, radiosamente medonha, não te assustes com ela, nem temas, trata-se do esplendor da tua própria e verdadeira natureza.
Reconhece-a, aceita-a, não te deixes ofuscar por ela.
Do meio desse esplendor virá o som natural da Realidade, como milhares de trovões, não te assustes, nem temas, trata-se sómente do som natural do teu próprio eu verdadeiro.
O corpo que agora tens chama-se corpo-pensamento de inclinações, já não tens o corpo de carne e osso, e tudo o que venha, sons, luzes, raios, não te podem fazer mal, és incapaz de morrer neste teu novo estado.
É suficiente para ti saber que tais aparições são tuas próprias formas-pensamentos.
Reconhece isso como sendo o Bardo e está tranquilo.
Se não o fizeres e por muita prática que tenhas tido em vida (meditação –exercicios iniciáticos), as luzes te assustarão, os sons te aterrorizarão e errarás no labirinto (Samsara)’’. 




Os 7 dias das Divindades Pacificas

O defunto nesta 3º fase irá de seguida ver surgir durante 7 dias, vários simbolos, divindades, formas que tem de enfrentar e reconhecer de modo a se fixar num Reino intermédio (existem pois 7 destes Reinos) sem necessidade de renascer.

O 1º destes 7 dias começa, a partir do momento, que ele desperta para o facto de estar morto e no caminho do renascimento (sem se ter fixado antes nas Claras Luzes), mais ou menos 3 a 4 dias após a morte. 

Os ‘assistentes’ dir-lhe-ão que agora tudo está em revolução e as aparências dos fenómenos que vão surgir serão esplendores e divindades e que é necessário o defunto se acostumar a essa ‘confusão’ tal como um bebé se acostuma quando nasce ao novo ‘ambiente’. 

Ou seja, agora vão surgir as formas mentais ilusórias que o morto adquiriu em vida consoante as suas práticas (religiosas-misticas-iniciáticas-ateias) como simbolos, deuses, sons, abstracções.


Se o morto se conseguir ‘fixar’ nalgum destes 7 dias como deve, então estabiliza o karma e permanece num estado-Reino intermédio de existência, cada dia com seu Reino. 



No 1º dia o defunto enfrentará dois tipos de Luzes, uma azul transparente, gloriosa, ofuscante que de tão brilhante mal é capaz de olhar e que atemoriza (tal como olhar de frente para o Sol) e outra branca, mas opaca e mais ‘acolhedora’.

Aqui a mensagem para o morto é :

‘’Não te deixes afeiçoar pela luz branca e opaca senão errarás perdido mas liga-te à luz azul e transparente com profunda fé, se assim procederes acedes ao Reino dos Budas’’.

Se o defunto não se fixou (porque se deixou dominar pelas ilusões) na luz azul do 1º dia, passa ao 2º dia onde é confrontado com suas más acções-pecados em vida e de novo com dois tipos de Luz , uma branca pura e transparente da Sabedoria e outra opaca escura do inferno. 

A mensagem neste dia é : ‘’Não te assustes com a luz branca transparente, não fujas dela, ela é Sabedoria, coloca nela a tua humilde e fervorosa fé, refugia-te nela e nela medita. 
Ela é o gancho a que te podes agarrar para a tua salvação. 
Se assim procederes acedes ao Reino da Felicidade Suprema. 
Se, pelo contrário, te afeiçoas pela luz opaca do inferno vais seguir o caminho do teu mau karma e da tua cólera acumulada e cairás no reino do inferno, por isso não olhes para ela e evita o rancor’’.

Nota : 
Começa aqui a referência chave ao ‘gancho’ da salvação da alma que surgirá igulamente nas próximas oportunidades de salvação nos dias que se seguem. 
Este gancho é o equivalente à mão que o Deus egipcio Ra faz descer do Céu em forma de raio para ajudar o defunto ou à acção salvadora da Graça cristã. 





Quem não foi agarrado pelo gancho no 2ºdia devido ao mau karma e ao orgulho é confrontado no 3ºdia duas luzes amarelas, uma transparente ( que amedronta de tão intensa) e outra opaca (que atraie de tão ‘suave’), aqui de novo se pede ao defunto para se unir à luz transparente e se afastar da opaca.

A mensagem neste dia é : ‘’Não te assustes com a luz amarela transparente, não fujas dela, coloca nela a tua humilde e fervorosa fé, refugia-te nela e nela medita. 
Ela é o gancho a que te podes agarrar para a tua salvação. 
Se assim procederes acedes ao Reino da Glória. 
Se, pelo contrário, te afeiçoas pela luz opaca do mundo humano vais seguir o caminho do teu egoismo e más inclinações e nascerás no mundo humano e no seu lodo e lamaçal mundano , por isso não olhes para ela e evita o egoismo’’.


Quem não foi agarrado pelo gancho no 3ºdia devido ao mau karma pela cobiça e avareza é confrontado no 4ºdia por duas forças, da Luz e da avareza-cobiça-afectividade, duas luzes vermelhas fogo, uma transparente (que amedronta de tão intensa) e outra opaca (que atraie de tão ‘suave’), aqui de novo se pede ao defunto para se unir à luz transparente e se afastar da opaca. 

A mensagem neste dia é : ‘’Não te assustes devido à tua afectividade pela luz vermelha transparente, não fujas dela, confia na sua deslumbrante e brilhante luz vermelha limpida, coloca nela a tua humilde e fervorosa fé, refugia-te nela e nela medita. 
Ela é o gancho a que te podes agarrar para a tua salvação. 
Se assim procederes acedes ao Reino Oeste. 
Se, pelo contrário, te afeiçoas devido a tua afectividade e fraqueza pela luz vermelha opaca cairás no mundo do Espiritos infelizes e não conseguirás ganhar a Libertação, por isso não olhes para ela e evita essa emboscada da afectividade sem sentido’’. 



Quem não foi agarrado pelo gancho no 4ºdia (pois devido a uma longa associação com seus erros são incapazes de os abandonar) e possuia karma muito negativo e muita inveja é confrontado no 5ºdia por duas forças, da Luz e paixão da inveja, duas luzes verdes ar , uma transparente (que amedronta de tão intensa) e outra opaca (que atraie de tão ‘suave’), aqui de novo se pede ao defunto para se unir à luz transparente e se afastar da opaca. 

A mensagem neste dia é : ‘’Não te assustes pela luz verde transparente, resigna-te a ela, não fujas dela, refugia-te na sua imparcialidade e nela medita. 
Ela é o gancho a que te podes agarrar para a tua salvação. 
Se assim procederes acedes ao Reino Norte. 
Se, pelo contrário, te afeiçoas devido a tua fraca capacidade mental e à tua forte inveja pela luz verde opaca cairás no mundo do sofrimento das guerras intermináveis, por isso não olhes para ela e evita essa tua inclinação invejosa’’.


Quem não foi agarrado pelo gancho no 5ºdia devido a fortes má inclinações e carente de familiarização com a Sabedoria e errou caminho abaixo por ter-se deixado dominar pelo sentimento de temor e terror das luzes e raios dos ganchos é confrontado no 6ºdia por duas forças, uma que vai representar as 4 entidades e as 4 cores do arco iris de Luz transparente que o incentivam a ligar-se a elas, outra que representa as 6 entidades negativas e as 6 luzes opacas de obstrução. 

Apenas a luz verde não se mostra ao defunto neste momento pois a faculdade de Sabedoria do seu intelecto ainda não está preparada–desenvolvida para ‘apreender’ essa cor e esse brilho.

A mensagem neste dia é : ‘’Não te assustes pela luzes opacas que te surgem, liga-se simplesmente ao brilho e esplendor das luzes do arco iris transparentes, não fujas delas, fica apenas em estado de não-formação de pensamento, elas são as tuas divindades tutelares, elas são um reflexo da tua prórpia luz interior, conhece-as e aceita-as como um filho compreende sua mãe. 
Elas são o gancho a que te podes agarrar para a tua salvação. 
Se assim procederes acedes ao Reino sem Retorno e fechas as portas dos 6 reinos negativos. 
Se, pelo contrário, te afeiçoas às 6 luzes ilusórias e opacas, devido à tua própria impureza cairás nos mundos impuros onde serás arrastado e de onde jamais te emanciparás, por isso não olhes para elas’’. 




Quem, por grave mau karma e por desrespeito completo de qualquer fé religiosa não se consegue fixar no 6º dia vai arrastar-se para o 7 ºdia e virá surgirem divindades (símbolos do caminho) do Conhecimento vindas do paraiso e entidades que representam a estupidez, o vicio bruto, a paixão obscura (representam o simbolismo do caminho para o mundo dos brutos e carniceiros) que o porão em confronto. 


A mensagem neste dia é :Ò nobre filho, dos corações das Divindades do Conhecimento sairão esplendores das 5 cores ( unidade em arco iris do centro, branco do leste, amarelo do sul, vermelho do oeste e verde do norte) tão brilhantes e puras que teus olhos não suportarão mirar essa visão esplendorosa.

Ao mesmo tempo surgirá uma luz azul opaca do mundo bruto e devido às influências das tuas más propensões, sentirás medo das luzes transparentes e puras e atracção pela luz azul opaca.
Não te atemorizes pelo esplendor das 5 luzes, elas são o teu gancho e a tua própria Sabedoria e vão conduzir-te ao Reino do Paraiso.

Não te deixes atrair pela luz azul senão cairás no mundo da brutalidade, da escravidão e das bestas.

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