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sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

O Bardo Thodol - Livro Tibetano dos Mortos 4


   


O Bardo Thodol - Livro Tibetano dos Mortos

Parte 4


A 1ª Fase do Bardo - O Chikhai Bardo

1º parte do Chikhai Bardo

Os sintomas da morte e a Clara Luz primária 

Os sintomas da morte 

Os 3 sintomas principais da morte que devem ser vivenciados em vida para na hora da morte eles serem reconhecidos, enfrentados e aceites são:

1) A terra a desaparecer na água.
Fisicamente é uma sensação de pressão.


2) A água a desaparecer no fogo.
Sensação fisica de frio humido como se estivessemos imersos em água, que gradualmente entra num calor fervente.


3) O fogo desaparecendo no ar.
Como se o corpo explodisse em pedaços, em átomos pelo universo.
Completa dispersão da individualidade e quebra da unidade corporal.


Estes sintomas são acompanhados por perda de controle no corpo, dos musculos, da audição, da visão, com a respiração a tornar-se convulsiva momentos antes da quebra de consciência.

Na morte ocorre uma transferência de consciência assim como no nascimento, de um plano para outro. 
Assim como o recém nascido tem de aprender como funciona o mundo onde acabou de nascer assim o morto tem de se adaptar a esse novo plano para onde acabou de passar.

Se foi em vida um adepto iniciado nestes ‘mistérios’ (que de misterioso nada têm para quem os procura e os acaba por compreender) e os viveu em vida (aquele que em vida ‘soube morrer’), pode nele ocorrer uma transferência instantânea de consciência, ou melhor dito, uma continuidade, por assim dizer, da consciência e passar de ‘vivo a morto’ com uma naturalidade e suavidade ‘divinas’e isto pelo simples ‘relembrar’ do que em vida praticou. 


Quem assim morre conscientemente, no momento de deixar o corpo fisico, reconhece a Clara Luz Primária que lhe surge e une-se a ela de imediato, quebrando quaisquer laços com as ilusões da vida, o Sonhador encontra a Realidade e nela repousa, num estado extático de consciência que no Ocidente esotérico se chama Iluminação ou em forma de parábola cristã, chegou a casa do Pai e prepara-se para trabalhar com Ele na Sua vinha. 

Quem não aproveitou a vida para se educar espiritualmente, chega a este novo plano com espanto, surpresa e completamente confuso e desorientado e esta quebra de consciência (a que o povo chama o ‘desmaio’ ou ‘estertor’ do morto) vai influenciar o seu percurso seguinte. 

Esta quebra de consciencia pode durar 3-4 dias ou menos (a tradição diz que quem viveu uma vida só de vicios esse tempo é o de um estalar de dedos) consoante a força vital de cada pessoa. 

Nessa fase do 1º Bardo é crucial o morto ser confrontado e aceitar a Clara Luz Primária se não se quiser ‘desviar‘ para outros caminhos.

Aqui o morto deve recordar ‘agora, chegou a altura, de te conheceres, e permanecer neste estado aceitando a Clara Luz Primária que te confronta pois assim obterás o melhor proveito da situação única onde agora te encontras’. 


Assim como ‘ esta é a única Realidade, o Vazio informe, reconhece-o como contendo o teu verdadeiro intelecto, a mente do Todo Bondoso e a tua verdadeira consciência que é a Clara Luz imutável e eterna’ .

Nesta fase o morto pode usar as praticas-rituais espirituais que fez em vida para se manter neste estado de plena aceitação da Clara Luz Primária. 





O que é a Clara Luz Primária ?

O que em todas as tradições se chama Deus ou equivalente, surge no momento da morte como um Esplendor abstracto (informe, sem forma alguma do mundo material) e segundo essas mesmas tradições pode surgir como uma representação-desenho geométrico, um mandala simbólico, rodas engrenadas umas nas outras, tudo sempre no abstracto sem hipótese de racionalização teórica





Para quem não vai ‘preparado’ isto tudo é tudo uma confusão a que quer escapar (pois não a compreende e não se consegue ‘agarrar’ a nada para se ‘fixar’), deixa ‘fugir a oportunidade’ de evoluir e segue para caminhos mais ‘fáceis’, não percebendo que teve à sua frente a ‘galinha dos ovos de ouro’.

Porque é tão dificil se manter na presença da Clara Luz Primária ? 

Existe uma história que explica isto de uma maneira muito adequada.

É dificil colocar uma agulha em equilibrio a girar numa linha mas quando se consegue ele fica lá equilibrada mas não por muito tempo devido á acção da gravidade que a força a cair ao fim de algum tempo. A agulha esteve, temporariamente, numa situação ‘a
normal’ para a ‘normalidade’ da natureza. 



Ao ser confrontado pela presença da Clara Luz Primária, o morto desfruta inicialmente dessa Estabilidade, desse equilibrio Perfeito, dessa Unidade, de um estado intenso de lucidez, mas ao fim de algum tempo, devido a esta ‘situação’ (estado extatico de não-ego, de consciencia subliminar) não lhe ser ‘familiar’ e não lhe permitir ‘funcionar’ como ‘está habituado’ e ele inevitávelmente tem de começar a ‘funcionar’ (seja aderindo ou rejeitando a Clara Luz Primária), surgem-lhe de imediato as suas inclinações/âncoras karmicas (pensamentos de ego, de personalidade, de dualismo, de ser individualizado) que fazem o seu principio de consciência perder o ‘equilibrio’ anterior e abandonar a Clara Luz Primária (obscurecida, tapada por essas inclinações).

É a vitória do ego, sobre a realização da Realidade (que é o contrário, o apagar dos desejos egoistas) e assim a Roda da vida continua a girar.

A Roda só pára para aqueles que, em vida, pela sua evolução espiritual, já ‘viram e sentiram’ essa Clara Luz Primária, em breves instantes cada vez mais longos, e a sabem reconhecer e aceitar plenamente (sabem ser dignos e humildes na Sua presença e nela aceitam serem integrados, pois ‘sabem’ pela prática vivida que nada perdem mas tudo ganham). 

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