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segunda-feira, 17 de outubro de 2011

A Obra do verdadeiro Artista ou Caminhante


A Obra do verdadeiro Artista ou Caminhante


Que obra é esta ?

Atingir a sua Libertação, juntar duas coisas numa só.

O que precisa de fazer o Artista?

Primeiro tem de entender sua natureza, perguntar-se o que está aqui a fazer, sentir-se preso na cadeia deste mundo e sonhar com algo mais, sem isso nem sabe nem pode se resgatar desta maldição.

‘ A semente da mulher esmagará a cabeça da serpente e a serpente morderá seu calcanhar’.

A semente é o Fogo da Luz e do Amor, a mordedura é o Fogo da cólera .

A Obra é unir estes dois.

A queda do homem envenenou, turvou a sua vida, ele já não vê sequer a sua origem.

O Artista, de inicio, apenas prepara as condições para que a Obra seja iniciada pelo Mestre que está e sempre esteve dentro da Obra, assim como o Mercúrio dos alquimistas sempre esteve na matéria por eles usada.

Mas precisa de forte Fé e entendimento antes de tudo, pois redimir uma matéria da maldição e tirá-la da morte é uma Obra que nunca pode ser feita por alguém cujo entendimento e vida interior também estejam mortos.

Armado de Fé e pleno entendimento do processo que tem de realizar, há que aguardar a ‘chamada’ de Deus, pois há os que entendem mas que nunca são ‘chamados’ a empreender a Obra.

Se fôr ‘chamado’ tem de abrir bem os olhos para ver o corpo do ferido, tarefa dificil dada a grande corrupção em que esse corpo está, pois o ferido tem a vontade própria e o egoismo como Rei e está enfiado nessa corrupção até ao pescoço, daí pouco mais poder enxergar.



O Artista deve constatar este facto e agir de acordo com ele e não levar ao fogo a matéria, que é a sua vida espiritual em embrião, que ainda não está preparada, pois assim trabalhará em vão e cairá no ridiculo e pior ainda, andará para trás em vez de para a frente.

O Artista deve saber que a tendência à perfeição, a matéria da sua Obra, não deve ser trazida do exterior, pois essa matéria está e sempre esteve no seu interior.

A vontade renovada do Artista pela sua Fé, deve desejar se conjugar com a Vontade divina, de modo a que o seu desejo de perfeição (a matéria da sua Obra) que nele jaz silencioso e imóvel possa ser movido e levado a unir-se á Vontade divina que assim abençoará esse caminhar da corrupção exterior para o amor interior de Deus.

Esse caminhar é um deserto onde existe a tentação contínua e onde o corpo terreno, seco e estéril não conseguirá confrontar as tentações do demónio a menos que recorra à Virgem e seja auxiliado por ela.

Por isso deve unir-se a ela e comer do seu pão e não do pão terreno , ou seja , deve renunciar à sua vontade própria, morrer para ela, aceitar a Vontade celeste com humildade em sua envenenada natureza e aceitar que a cabeça da serpente ( o orgulho e a vontade própria) seja esmagada.

O Artista tem de estar atento, não deve deixar o demónio tentador (o fogo interno das emoções e externo das tentações) ser muito agressivo e colérico para ‘não ser morto antes de tempo’ numa possível disrupção da personalidade, nem muito brando, pois assim não será suficientemente ‘atacado’ e não tendo ido ao confronto e à luta a sua natureza envenenada pode ‘reavivar-se ’ e destruir o que foi ganho antes, voltando a ser a mesma coisa venenosa que era antes.

Tarefa complexa e dificil !

Ao fim dos quarenta dias simbólicos de tentações, o artista tem de estar atento, pois quando o demónio se afasta vencido, os anjos virão para provar o Artista com um ‘sinal’, que será uma indicação para o Artista saber se está apto e se é digno de realizar a Obra.

Se os anjos não surgem é sinal que ‘ainda não chegou o tempo certo’, que a sua natureza envenenada prevaleceu desta vez.

Se surgem os anjos, é sinal de alegria que o noivo se uniu á noiva e vice versa e que a Obra prospera e tendo sido esmagado o orgulho e vontade próprias o Artista terá uma visão de pureza e liberdade simbolizada por Vénus.

Aí o Artista pode pensar que a Obra está terminada e ter alçançado o tesouro mas logo perceberá que essa Vénus ‘ainda’ é uma mera mulher e não o puro hermafrodita (a pura virgem masculina com as duas tinturas unidas numa só) que ele deseja alcançar.

A Tintura universal que reune as duas (a Luz e o Fogo) ainda não se encontra fixa e tudo até aqui é transitório e muito trabalho há a fazer para a fixar de vez.

O Artista constata que a Luz celeste é um puro espirito que depressa se ‘evapora’ e deixa a Obra inacabada, pois ainda não se casou/fixou com a Tintura masculina do Fogo.

Essa fixação precisa de um corpo incorruptivel como sustentáculo, que ainda não existe e que terá de ser extraido do Fogo da vontade própria que ainda não foi completamente dominada/transmutada.


O aparecimento de Vénus é um simbolo da manifestação da natureza celeste e imortal do homem e vai criar um combate acesso com as forças das trevas que se opoêm a esse novo estatuto do Artista, as forças que o tinham controlado até aí e agora estão a vê-lo a ‘fugir-lhes’.

Nessa altura o Artista pode receber a Graça divina nesse combate para o ajudar a transmutar e aniquilar as suas vontades egoistas, tornando-as mais fixas e estáveis.

Falta metade da Obra a percorrer, fez-se a Obra em Negro (vencidas as tentações no deserto) e a Obra em Branco com o aparecimento dos anjos e de Vénus, faltam as fases Vermelha e a Dourada.

Esta luta de luz e trevas é muito intensa nesta fase, as trevas de início recuam pela força da Luz que o Artista adquiriu ao abandonar a sua vontade própria à Vontade celeste, mas rapidamente voltam à carga com novos artificios e em níveis mais elevados para enganar o Artista.

As vontades próprias ainda não foram fixadas na totalidade numa única Vontade, a transmutação ainda não está completa, há que continuar a batalha sem tréguas.



Nesta altura critica o Artista sente-se abandonado por todos os lados, de cima a baixo, tal como Cristo pelo Pai na cruz e pelo povo que o entregou aos carrascos.

Aqui o Artista deve permanecer quieto, paciente, resignado para sofrer o que vier e assim poder morrer de vez (ser devorado pelo dragão) e fixar em definitivo as suas vontades próprias coléricas na Vontade única e amorosa.

Sem temor e pleno de Fé na sua Vénus, na sua nova Luz interior, mesmo ao ver a doçura ser açoitada pelos carrascos e a coroa de espinhos lhe ser colocada.

Nesta resignação paciente o Artista recebe uma benção, uma Graça divina para neste mundo miserável manter seu corrompido corpo terreno num equilibrio são até chegar a hora da sua morte fisica.

Esta benção ajuda o Artista, pois nesta fase quando entrega e abandona resignadamente todas as suas vontades, surge uma grande escuridão e trevas negras como o carvão devido ao aniquilamento da dualidade entre a Luz de Vénus e o Fogo da cólera e a vida e a morte jazem quietas e imóveis na Vontade de Deus e resignadas ao Seu propósito.

O fim regressa ao inicio, tudo se consome, o Artista que até aí tinha visto Maravilhas da Obra agora vê uma escura noite, não há mais movimento ou operação alguma, tudo se aniquila, tudo o que é terrestre se transmuta em divino.

Esta noite escura, esta morte é necessária para a Obra se consumir, sem ela a Palavra eterna não elevaria o Artista à Glória, como uma nova criação, um novo nascimento.

Agora prevalece a Vontade e não as pequenas vontades, estamos no inicio da Obra em vermelho.

Dessa fixação, dessa Unidade final surge uma pureza branca do carvão negro e depois numa mistura de branco e vermelho (cor rosa, etapa da Obra em vermelho) pela união da Luz e do Fogo.

Finalmente poderá surgir a cor amarela, cor da Majestade, inicio da ultima fase da Obra, a fase dourada.

Nesta fase as propriedades coléricas e de amor se aniquilam e se unem tal como era antes da Criação numa nova vida e quando o Artista vir o sangue vermelho do masculino se elevar da morte e sair das trevas negras unido á cor branca da Virgem deve saber que possui o maior arcano do mundo e um tesouro inestimável.

Que Deus seja louvado por este mistério e por esta Maravilha!




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