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sexta-feira, 14 de outubro de 2011

A Loucura segundo Jacob Boehme - Parte 3



Como regressar à essência celeste e abandonar a loucura?

Primeiro perceber essa necessidade fundamental para o homem, depois confiar em Deus e não na sua vontade própria, ficar quieto nessa vontade própria até Deus ‘falar’ nele.
Quem permanece ‘quieto’= sem vontade própria, mesmo por uma hora ou menos, a Vontade divina ‘fala’ nele.
A vida que se entrega ao seu fundamento divino é uma vida onde o ‘falar’ de Deus não pode deixar de se fazer ouvir pois está no Abismo da Natureza e da criatura, no eterno ‘falar’ de Deus e Ele ‘fala’ nela.
Pois se a vida se originou e veio ao corpo através do ‘falar’ de Deus e não passa de uma imagem da Sua Vontade, então se a imaginação e vontade próprias se calam, a imaginação e Vontade divinas se elevam e ‘falam’.
Pois o que está sem vontade própria constitui uma só coisa com o Nada e está fora e acima da Natureza.
Esse Nada é o próprio Deus.
Nesse Nada o homem se reencontra com sua divina origem, pois esse Nada é um eterno ‘falar’, que ‘soprou’ a vida à Sua semelhança, que ‘fala’ com ela quando a vê abandonada, porque dois semelhantes não podem deixar de se ‘comunicar’.
A vida que se entrega à imaginação da vontade falsa e terrena, adquire uma qualidade terrestre animal e passa a ser, em seu corpo, um animal maligno, e em sua alma, uma vontade falsa que despreza Deus e habita simplesmente na sua própria imaginação e conhecimentos sensiveis.


Tomemos o Sol como exemplo.
Se uma planta não tem seiva, ela é queimada pelo Sol, mas se tem seiva ela é aquecida e cresce com os raios do Sol..
Se o homem não conduz sua vida no sentido da essência da doçura e amor de Deus, o eterno ‘sopro’ da ‘fala’ de Deus não encontra seu semelhante e então produz ( por falta de ‘equilibrio’ na comunicação ) uma ‘fala’ inflamada, feroz, invejosa e espinhosa que destrói no homem tudo o que é bom.
A doçura divina não pode agir na falsa vontade própria do homem pois ela não lhe é ‘semelhante’, apenas tem uma ígnea cobiça e uma pungente inveja.
Mas se o homem percebe qual a verdadeira razão de ter nascido e caminha no sentido certo, então estabelece-se uma comunicação equilibrada entre ‘semelhantes’ que faz nascer um Espirito Novo, um Espirito Santo a partir dessa natureza antes inflamada (desequilibrada) como uma vontade de amor divino e não mais devoradora mas agora doce e doadora que se dá a tudo e em tudo produz algo de Bom.
A mente, a vontade e os pensamento da vida humana originam-se na Vontade de Deus e são um contrário ou uma imagem de Deus na qual Ele quer, age e habita.
Quem se afasta desta imagem e procura repouso não o encontra, pois procura-o, não na imagem ou contrário divino mas na fragilidade das imagens terrenas, que como temporais que são, perecem e que nada têm de semelhante com a vida.
Daí a vida do homem se elevar neste mundo como se fosse um deus da natureza (material) numa conduta louca e tola, numa imaginação terrestre e numa auto-elevação que o impede de conhecer seu próprio fundamento, seu próprio estado original, aí sim, onde está o seu repouso eterno.
Como quis habitar no que perece e não no que é eterno, o que passa rápido como fumaça e não no que é permanente, conduziu-se para fora da sua essência divina e entrou numa essência terrestre, num ser extremamente frágil.
Quando morre, a vida assim vivida sómente na essência terrestre, apenas subsiste no principio do fogo da contrariedade e das trevas e daí a sua angustia permanente pois não alcança a doçura e o repouso celeste.

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