-- De onde vens e para onde vais ?
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sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Os Seis Anéis de Ouro



«Ora São Paulo diz: "Sejam renovados no vosso espírito." Se nós queremos ser renovados em espírito, as seis potências da alma, as superiores e as inferiores, devem ter cada uma um anel de ouro, recoberto pelo ouro do amor divino.

Notem bem! As potências inferiores são três. A primeira chama-se o discernimento, a rationalis; tu deves ter para ela um anel de ouro, quer dizer a luz que faz com que em todo o tempo, fora do tempo, o teu discernimento seja iluminado pela luz divina. A segunda potência chama-se a colérica, a irascibilis; tu deves ter para ela um anel, quer dizer: a tua paz. Porquê? Porque quanto mais tu estás longe na paz, mais tu está longe em Deus, e quanto mais longe tu estás da paz, mais longe estás de Deus. A terceira potência chama-se o desejo, a concupiscibilis; tu deves ter para ela um anel: a moderação, para que tu te contentes com todas as criaturas que estão por baixo de Deus. Mas tu nunca te deves contentar com Deus. Deus nunca te pode contentar: quanto mais tu tens de Deus, mais tu desejas; se Deus te pudesse contentar, que tu te contentasses com Deus, Deus não seria Deus.

Tu deves também ter um anel de ouro para cada uma das potências superiores. As potências superiores são igualmente três. A primeira é a potência que retêm, é a memória, memoria. Esta potência compara-se ao Pai na Trindade. Tu deves ter para ela um anel de ouro: é a retenção, para que tu retenhas em ti todas as coisas eternas. A segunda chama-se intelecto, intellectus. Esta potência compara-se ao Filho. Para ela também tu deves ter um anel de ouro: é o conhecimento, para que tu conheças Deus em todo o tempo. Como? Tu deves conhecê-lo sem imagem, sem intermediário e sem semelhança. Mas, para poder conhecer assim Deus sem intermediário, é preciso absolutamente que eu me torne n'Ele e que Ele se torne eu. Eu digo mesmo mais: Deus deve absolutamente tornar-se eu, e eu absolutamente tornar-me Deus, tão totalmente um que este "Ele" e este "eu" se tornem e sejam um "é", e operem eternamente uma única obra na "éidade", porque este "Ele" e este "eu", Deus e a alma, são muito fecundos. Um único "aqui" e um único "agora", e este "eu" não poderia nunca operar com este "Ele" nem tornar-se um. A terceira potência chama-se vontade, voluntas. Esta potência compara-se ao Espírito Santo. Para ela também tu deves ter um anel de ouro: é o amor com o qual tu deves amar Deus. Tu deves amar Deus sem o encontrar amável, o que quer dizer: amá-lo não porque ele é amável, porque Deus não é amável, Ele está acima de todo o amor e de toda a amabilidade.»

Mestre Eckhart, Sermão 83.

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