Começamos pelo Santuario de N.S. Lapa .
Santuário da Senhora da Lapa em Quintela
Localiza-se junto às nascentes do rio Vouga, na freguesia de Quintela, concelho de Sernancelhe, diocese de Lamego, distrito de Viseu e é um dos cultos mais populares e tradicionais de Portugal.
A Festa anual realiza-se a 15 de Agosto.
A Senhora da Lapa, em Portugal e Santiago de Compostela, na Espanha, chegaram a ser, em tempos, os dois santuários mais importantes da Península Ibérica.
De facto a capela de Nossa Senhora da Lapa foi construída já no século XVII pelos jesuítas, mas o culto é muito anterior, havendo quem o remeta para o século X, quando as investidas dos mouros fizeram com que a população cristã tenha escondido uma imagem da Virgem numa gruta ou "lapa".
A Lapa é uma terra de fé, um sítio de mistério natural e de alcance transcendal. De qualquer ponto que o circunstante lance o olhar, de perto ou de longe, encontra como ponto de contacto ou a torre da igreja ou um cruzeiro ou mesmo um dos quatro consagrados miradouros.
Está a povoação situada quase no cimo da serra com o mesmo nome, a 915 metros de altitude.
Tem como originalidade uma gruta usada desde tempos imemoriais em cerimónias pagãs pelos povos pré-históricos e depois assimilada pelo cristianismo que construiu á sua volta uma igreja e um santuário gerido pelos Jesuitas em colaboração com a Universidade de Coimbra.
Outra originalidade é existir nesta gruta uma curiosa passagem entre rochas por onde só se consegue esgueirar quem não cometeu pecados graves na sua consciência e o peregrino tem de a atravessar por 3 vezes no sentido oposto aos dos ponteiros do relogio depois de passar durante o trajecto pela imagem da N.S. Lapa no seu abrigo ao lado da abertura.
Diz a tradição que só passa na abertura quem for ‘sem pecado’ , caso contrário tem de se confessar primeiro antes de conseguir passar.
Assim pois , nesta igreja por detrás do altar existe uma gruta que alberga uma história que originou o culto cristão e que diz assim :
O célebre e hábil general mouro, Al-Mançor, pelo ano de 982, atravessou o Douro para a margem esquerda.
Havendo destruído Lamego, progrediu para Trancoso.
No trânsito arrasou o Convento de Arcas, onde martirizou muitas das religiosas. Atravessada a serra de Pêra, chegaram ao convento de Sisimiro, sito na actual Quinta das Lameiras, freguesia de Pinheiro, concelho de Aguiar da Beira.
Parte das religiosas sofreram o martírio, outras escaparam levando consigo uma imagem de Nossa Senhora, procurando abrigo nos matos por onde se embrenharam.
Acharam a gruta ou lapa, onde guardaram a dita imagem que ali resistiu à agrura dos séculos, durante uns 515 anos.
Em 1498, uma pastorinha chamada Joana, muda de nascença, da freguesia e lugar de Quintela, andando a guardar o gado de seus pais, lembrou-se um dia de entrar ali na gruta e encontrou a santa imagem que meteu na cesta onde guardava as maçarocas e a merenda.
A imagem era de pequena dimensão, mas muito formosa.
E a pastorinha guardou-a e enfeitava-a como podia e sabia, com as mais lindas flores que topava nos campos ou no monte.
Ao voltar a casa, no fim do dia, cuidava da roupa da imagem. As ovelhas, apesar de fartas e nédias, eram apresentadas quase sempre nos mesmos lugares, o que motivou acusações por parte de outrem à mãe de Joana.
Tudo isto e as teimosias da filha a fizeram enervar e, sem mais, tirou-lhe a imagem, que teve por uma vulgar boneca, e atirou-a ao lume.
Talvez por isso a estátua da Virgem que está no santuário apresente marcas de queimaduras.
A menina, transida de pavor, quebrou a sua mudez e gritou;
“Tá! Minha Mãe! É Nossa Senhora! Ai! Que fez?”.
A fala, desde aí, nunca deixou a mocinha pastora e a mãe ficou com o braço paralizado, transe de que se curou com a oração de ambas.
A imagem foi levada para a Lapa, sob a orientação do percurso por Joana e todos a acompanharam.
Porém, tal não terá sucedido sem que antes o cura de Quintela houvesse tentado a entronização da veneranda imagem no interior da Igreja Paroquial, donde a mesma imagem desaparecia de modo insólito e voltava sempre para a ‘sua’ gruta onde finalmente ficou em definitivo dando origem à romaria actual .
O altar de Nossa Senhora da Lapa foi erguido no local onde, segundo a lenda, a pastora Joana encontrou a imagem escondida pelas religiosas.
Ali se venera há cerca de quatro séculos, como as multidões da Beira sabem venerar, aquela em quem veêm a luz nas suas trevas e o consolo nas angústias do coração.
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