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quarta-feira, 13 de julho de 2011

Festa do Divino Espirito Santo ou dos Tabuleiros 2011 em Tomar


Festa do Divino Espirito Santo ou dos Tabuleiros 2011 em Tomar


Realizou-se nos dias 8 a 10 de Julho 2011 a tradicional Festa dos Tabuleiros em Tomar que celebra o culto do Divino Espirito Santo e que remonta a 1844 sendo realizadas de 2 em 2 anos até 1991, a partir de onde se realizam de 4 em 4 anos.





O culto do Espírito Santo remonta à cultura pagã de renovação da natureza e do homem e coroa a criança, Imperador do Mundo, simbolo da renovação espiritual do homem e da sagração do divino pela ‘inocência’ ou pureza da criança .

‘Vinde a mim as criancinhas, pois só a pureza das crianças entra no Meu reino‘.

Tradicionalmente as celebraçoes iniciavam-se no Domingo de Pascoa, dia em que pela primeira vez ocorria o Cortejo das Coroas, conduzidos por três mordomos e repetindo-se o cortejo nos 7 domingos seguintes.


No ultimo domingo, de Pentecostes, ocorria o Cortejo dos Tabuleiros precedidos pela banda filarmónica, pelos estandartes ou bandeiras escarlates do Espirito Santo de cada freguesia e pelos três mordomos com as três Coroas em bandejas com pano vermelho .


Cada tabuleiro é transportado por uma rapariga (de inicío seria solteira e virgem) acompanhada por uma rapaz que a ajuda a equilibrar o tabuleiro .

O tabuleiro tem 30 paes enfiados em canas , espigas e flores, a altura do tabuleiro é a altura da rapariga e o peso ronda os 15-20 Kgs.

Actualmente 17 freguesias de Tomar participam na Festa, cada freguesia tem 40 tabuleiros, são perto de 700 tabuleiros no total estando envolvidas no Cortejo final perto de 2.500 pessoas entre as filarmónicas, acompanhantes de coroas, estandartes, etc.

No Cortejo incorporam-se carros de bois engalanados nos cornos por coroas de flores, animais de sacrifico para o bodo, acompanhados por crianças vestidas de anjinhos .

A partir de 1991 criou-se o Cortejo dos Rapazes para incutir nas crianças o espirito da Festa e para mais tarde participarem no Cortejo dos adultos e que este ano reuniu cerca de 1.500 crianças, um bom augúrio para o futuro desta Festa .


O cortejo é no final benzido na igreja e a distribuiçao do bodo é 2ºfeira, no dia seguinte .

O culto português do Espírito Santo não tem equivalente no mundo católico.


A tradição diz que foi a Rainha Santa Isabel, esposa do Rei D. Dinis quem instituiu este culto, em Alenquer mas há quem diga que os cultos não foram instituídos pelos reis nem pelas princesas . Têm origem em dinâmicas espirituais e simbólicas, em sobreposições de cultos e de calendários, e na criatividade popular. Há capelas e referências a confrarias do Espírito Santo anteriores à Rainha Santa, nomeadamente em Santarém.

O culto do Espírito Santo é dos mais belos elementos do património imaterial português.

A ausência de dogmatismo e de liturgias autoritárias permite que o culto seja espiritualmente fértil («o espírito sopra onde quer»).

É universalista, pode ser atribuído a qualquer divindade ou tendência espirtual, ecuménico e transcultural.
Nas Beiras interiores desapareceu.

No distrito de Leiria ainda se mantém em algumas freguesias. Persiste com muito dinamismo nos Açores, em Alenquer , em Sintra- Penedo e em Tomar.

Ler sobre a Festa do Penedo em

http://acaminhodacasa.blogspot.com/2010/06/o-touro-e-festa-do-divino-espirito.html

A actual expressão Espírito Santo refere-se à terceira pessoa da Trindade cristã.

O dia do Espírito Santo é no domingo de Pentecostes que, em grego, significa «50 dias» (7 semanas, depois da Páscoa). A Páscoa era (como hoje) a primeira lua-cheia depois do equinócio da Primavera. Uma festa à deusa-Lua. O 7 é um número sagrado de carácter lunar (as fases da lua duram 7 dias) e significa «completude», «plena realização».

O culto da Lua transferiu-se para o Deus bíblico. Jesus também se deslocou com os seus discípulos a Jerusalém para a celebração do Pentecostes, donde a festa cristã. Nos primórdios bíblicos, era uma festa agrária; chamava-se festa das Semanas, das Ceifas, da Fartura.

Depois adquiriu a simbólica da Aliança entre o povo e Deus: festa do Dom da Lei, da Renovação da Aliança ou dos Juramentos.

A POMBA O ícone do culto é uma pomba que, para os cristãos, representa o Espírito Santo, a terceira pessoa da Trindade.

A imagem do Espírito Santo é uma pomba que voa.

Aprendamos a segui-la.


O REI ou IMPERADOR
A personagem central do culto é o «imperador ». Ele incarna o Divino e preside a um bodo ou refeição ritual.

O Imperador benze as pessoas dizendo :

Divino Espirito Santo consolador
Vossas almas vinde visitar
cheias de graça celeste
para vosso peito conservar
Amen.

A COROA – O pendão da festa contém uma coroa. A festa do Espírito Santo de Tomar também se chama «Festa da Coroa».



BODO – CARNE – PÃO E VINHO --- A festa do Espírito Santo é, fundamentalmente, um bodo de pão. Oferece-se pães, ou uma farta refeição de carne,a quem vier – um dos mais belos ritos populares.

Diz-se em muitos sítios que este bodo é em «cumprimento duma promessa antiga» que fez a povoação para se ver livre duma praga agrícola ou duma epidemia. A «promessa antiga» pode ser a «Antiga Aliança» firmada no Sinai entre Deus e o povo eleito.


Os bodos rituais são um modo de renovar as boas relações entre habitantes vizinhos, entre tribos vizinhas e entre o povo e o seu Deus.

No modelo arcaico de relacionamento com o Sagrado, só a oferta dos primeiros frutos e dos melhores animais à Divindade (depois partilhados por todos) poderia garantir protecção para os restantes bens e pessoas.

O pão confeccionado com a finalidade de servir de símbolo do Sagrado, em alguns dos ritos que compõem a Festa de uma semana, é tido como imbuído de poderes especiais, a crença nas propriedades deste pão especial:

– Tem o poder de acalmar tempestades.

– A sua durabilidade é infinita.

– As sopas do Espírito Santo, feitas com este pão, são sempre mais saborosas do que as feitas fora deste tempo.

– Não deve ser dado aos animais, nem deitado fora.

– Preserva da fome a casa que guardar durante o ano a “cabeça” da brindeira .

A oferta de vinho (usualmente, “vinho de cheiro”), durante as celebrações, causa sempre alguma retracção aos desconhecedores da tradição. Aparentemente, os participantes dos rituais do Espírito Santo reportam-se à tradição Grega mais recuada, que se situa no século VII a.C. e mesmo antes.

Nessa altura, e seguindo a mitologia Grega, Dionísio (o Baco Romano), deus do vinho, era também cultuado como deus da vegetação, das árvores e frutos, acreditando-se que morria em cada Inverno, ressuscitando na Primavera.

TRADIÇÕES EXOTÉRICAS O conceito de «Espírito Santo » é muito fértil em espiritualidade. No culto beirão encontramos, em 1960, a menção da transmissão dum segredo: o mordomo cessante transmitia um segredo ao sucessor, ambos fechados na capela, mas cujo conteúdo se desconhece (porque era segredo…).

TOURADAS O abate de touros era frequente – e necessário – no adro do templo de Jerusalém (tal como noutros templos do Médio Oriente) para holocausto à divindade e para o bodo do povo.

O culto em Portugal do Divino associa-se a touradas.

No séc. XVI as confrarias do Espírito Santo (ou «do Bodo») de Leiria possuíam reservas ou estábulos para garantir carne para o bodo, e havia touradas «com reses bravas». As touradas ibéricas podem vir desse ritual de sacrifício.

A função dos nossos forcados pode vir do acto corajoso de pegar no touro pelos cornos a fim de o sacrificador poder espetar o cutelo. As capelas portuguesas – tal como o Templo de Jerusalém – foram pólos de arraiais taurinos.

O TEMPLO (Tabuleiros em Tomar e Imperios nos Açores)

Os Templos do Espírito Santo, pequenas construções, na sua maioria de forma cúbica, os “Impérios”, como são conhecidos em algumas ilhas dos Açores , caracterizam-se por manterem o sentido inicial dos templos Gregos.

Não são utilizados para a realização do Culto e preces à Divindade, como é comum na Cristandade, mas, tal como nos templos Gregos, servem apenas como morada (temporal) da Divindade e marco da sua existência material.

Tabuleiro tradicional em espiral



Em Tomar surgem como os Tabuleiros que vão á cabeça das mulheres e são formados pelos conjunto das boas colheitas (paes, espigas e flores), da coroa e da pomba .

A tradição antes de 1950 mandava serem os paes colocados em espiral como nas colunas salomónicas postadas no atrio do Templo de Salomão e não como actualmente na vertical.

Cada par, simbolo da dualidade e da familia, participante no Cortejo contribuia assim simbólicamente para a construção do seu próprio Templo ‘interior’.



Tabuleiro tradicional em espiral

As alvoradas ou quadras do Espirito Santo

Divino Espirito Santo
Oh! Divino Imperador ;
Amparai a minha alma
quando deste mundo me fôr.

Que pombinha é a que
que no ar anda voando?
é a do Espirito Santo
que nos vem acompanhando.

As três pessoas divinas
são um mistério assombroso:
São três pessoas distintas
e um só Deus poderoso.

Oh! Divino Pai eterno,
Vós sois o Pai da Verdade;
Sois três pessoas distintas
da Santissima Trindade.

Oh! Divino Pai Eterno,
são horas, vamos saindo,
acordai para bom caminho
quem na culpa está dormindo.


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