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domingo, 13 de fevereiro de 2011

Os Discursos de Pedro de Damasco --Parte 14 e Final


A Vigilia em permanência


Minha vida é a morte, mas a morte fisica parece mesmo pior por causa do meu medo de punição.

O que devo escolher?

Em minha ignorância todas as coisas parecem contraditórias e não posso conciliá-las.
Eu não consigo encontrar a virtude e sabedoria ocultas nos meus testes diários , já que eu não consigo suportar essas provações com paciência.
Eu fujo da quietude por causa do meus maus pensamentos, e assim me encontro cercado pelas paixões que me tentam através dos sentidos.
Eu quero jejuar e manter a vigília, mas estou impedido pela presunção e preguiça.
Eu retiro-me de tudo e fujo por medo de pecar, mas a indiferença é novamente a minha perdição.

Muitos, porque tinham uma fé firme, receberam coroas de vitória depois de passar através de batalhas e testes como esses.

Foi por causa de sua fé que lhes foi concedido temer a Deus, e através deste medo foram habilitados para a prática de outras virtudes.
Se eu tivesse fé, teria encontrado o medo através do qual, teria recebido verdadeira devoção e conhecimento espiritual, e a partir deste conhecimento teria chegado força, conselhos, compreensão e a sabedoria do Espírito Santo e a paciência que torna possível ver todas as coisas, de cima ou de baixo, com uma mesma atitude mental.

Se acreditamos que alguém invisível está guiando a nossa vida, como podemos obedecer a nossos próprios pensamentos, quando dizem "eu quero isto” ou 'eu não quero isto”, “Isto é bom" ou "Isto é mau” ?

Se tivéssemos algum guia visível, podiamos sempre perguntar a ele sobre tudo, ouviamos a resposta e executávamos o que foi dito.

Quando não temos um guia visível, temos Cristo e devemos fazer perguntas a Ele através da oração do coração, com fé esperando sua resposta sem ansiedade e com paciente persistência que se irá manifestar em nossos pensamentos e ações.

Sem essa paciência, Satanás, não sendo capaz de afectar-nos em nossa ações, pode responder-nos em nossos pensamentos, fingindo que ele é o guia e, desta forma nos arrastando para a perdição, porque nos falta paciência.

São aqueles que não têm essa persistência , que em sua ignorância impetuosamente têm pressa em agarrar o que ainda não foi dado .

Mas aquele que, com paciente persistência ganhou experiência com as manobras do diabo vai lutar e se esforçar com a mesma paciência, a fim de atingir o objetivo , pois sabe que "o próprio Satanás se transforma em anjo de luz" e não há nada de surpreendente nisso, pois os pensamentos que ele faz para aparecer no nosso coração parecem ser pensamentos justos para aqueles que não têm experiência.

Por este motivo, é bom ser humilde e dizer 'eu não sei ".

Podemos esperar por muitos anos até que a resposta nos seja dada, sem ser esperada ou percebida, na forma de ‘sugestões’ ou ‘toques sugestivos ‘ para acçoes concretas e desta forma, alcançarmos o conhecimento espiritual ativo.

Mas só quando vemos esse conhecimento persistir em nós durante muitos anos, é que nós vamos entender que realmente fomos ouvidos e que recebemos a resposta de forma subtil e invisível.

"Aquele que perseverar até o fim será salvo", para que não exista excesso de confiança ou descuido, mas se continue na luta por medo pois mesmo uma pessoa que tenha outras virtudes, apesar de poder já habitar no céu, se ela tem um pouco que seja de presunção e soberba, isso pode fazê-lo cair como o que levou à queda do diabo, Adão e muitos outros.

Por isso não devemos nunca abandonar o medo, até que cheguemos ao paraíso do amor perfeito e não estejamos mais no mundo e no corpo.

Mesmo a pessoa que alcançou tal paraíso não vai abandonar o medo de sua própria vontade.

Pelo contrário, em virtude de sua grande fé o seu intelecto está liberto de toda a ansiedade sobre a vida e a morte do corpo, ele alcança o medo puro que é inspirado pelo Amor, ele tem medo porque é Amado sem ele próprio mostrar amor ,recebendo a benção do Amor sem o merecer e assim a alma atinge a humildade que transcende a natureza.

Pela humildade perfeita recebeu a discriminação por meio da qual percebe que é uma criatura de Deus, e que por si mesmo não pode fazer nada de bom nem sequer pode preservar o que lhe foi dado por graça, e que ele sózinho não pode nem remover a tentação, nem suportá-la através de sua própria coragem e julgamento.

Por meio de discriminação, ele atinge um certo grau de conhecimento espiritual e começa a ver todas as coisas com o olho do intelecto.



Mas, ignorante dos princípios interiores dessas coisas, ele anseia pelo Professor, ainda que não o consiga encontrar, porque Ele é invisível.

Ao mesmo tempo, ele não está disposto a aceitar qualquer outra pessoa porque sua discriminação lhe diz que esse alguém pode ser um impostor, então ele está como que perdido no oecano e como resultado encara tudo o que fez e tudo o que lhe tem sido ensinado como sem valor .

Ele adquire o conhecimento que de fato ele nada sabe, na verdade, um homem acha que sabe, mas ele não sabe nada ainda e que o que ele pensa que tem lhe será tirado, isto é, será tirado porque ele acha que tem ,mas na verdade não tem.

Assim, o homem que reconhece que é estúpido, ignorante e fraco, chora e lamenta-se, porque pensou que tinha recebido o que ele agora percebe que não tem.
Uma pessoa humilde tem consciencia de ser eterna pecadora e pratica o autocontrole e paciência em face de aflições, pela fé ganha vitória sobre seus inimigos, e quando conseguiu isso, então, pelo poder de Deus e através da sabedoria concedida é que se torna consciente de sua própria fraqueza e ignorância e treme de medo de recair por desobediência.

Por causa desse medo puro - medo que não é devido ao fato de que pecou - e por causa da gratidão, paciência e humildade, que lhe foram concediadas como resultado de seu conhecimento, ele começa a ter esperança que pela graça de Deus ele obterá misericórdia.

À luz de sua experiência das bênçãos que recebeu, ele teme não ser considerado merecedor de tais dons por parte de Deus.

Daí ele recebe maior humildade e mais intensa oração do coração e quanto mais estes aumentam, junto com a sua gratidão, tanto maior o conhecimento que ele recebe.
Assim, ele avança do conhecimento ao medo e do medo para a gratidão, e assim ele alcança o conhecimento que transcende tudo isso.

Não sendo capaz de dar graças adequadas para todas estas benções recebidas , ele se entristece, e então, mais uma vez maravilhado com a graça de Deus, ele é consolado.

Ele anseia que a vontade de Deus seja feita em tudo e abomina todas as honras e conforto, considera-se inferior a todos os outros homens e nem sequer pensa que é alguém .
Ele anseia pelas provações e testes á sua alma como bençãos e considera prazer e conforto como extremamente prejudiciais , mesmo embora possam ter sido enviados por Deus para o testar .

Durante este periodo de calcinamento interior ,o seu intelecto começa a atingir a pureza e retornar ao seu estado primitivo, isto é, para o estado do conhecimento espiritual natural que perdeu através de sua amizade com as paixões ou seja agora o intelecto vê as coisas como elas são, por natureza .

Tal conhecimento natural brota de discriminação, e nos permite perceber os princípios interiores das coisas sensíveis e inteligíveis.
Por conta disso, é conhecido como a contemplação dos seres criados, isto é, da criação de Deus.
É natural uma vez que pré-existe na natureza e vem da pureza do intelecto.
No entanto, mesmo o conhecimento espiritual natural não pode ser alcançado sem Deus, embora seja natural.

Mas quando as paixões obscurecem o intelecto, ele perde essa visão ‘natural’ , e se Deus não remove as paixões através da nossa prática das virtudes, o intelecto permanece cego.

O dom de profecia, porém, é de outra ordem, pois transcende a natureza e é concedido apenas pela graça.

Da fé nasce o medo e do medo vem tristeza interior.
Esta, por sua vez, produz a humildade, que dá origem à discriminação.
Discriminação, por último, dá à luz a visão espiritual e, por «graça de Deus«, o dom da profecia.

Para quem não tem conhecimento, Deus envia provações e tentações para que se abstenham de pecado, ao mesmo tempo incentiva-os, conferindo-lhes as bênçãos do corpo, de modo a não os desesperar.

Como seres inteligentes devemos prestar culto com a nossa inteligência inteligível à Inteligência divina.
Então, seremos dignos de receber dEle a expressão divina do Espírito Santo.

Pois Deus dá a oração a quem que reza e a quem na verdade reza a oração do corpo, Deus dá a oração do intelecto, e aquele que diligentemente cultiva a oração do intelecto, Deus dá a oração sem forma que vem do puro medo dEle.

Novamente, para quem pratica esta oração sem forma mas eficaz Deus concede a contemplação dos seres criados.

Assim que isso é alcançado e uma vez que o intelecto está libertado de todas as coisas , ele dedica-se a Ele em ação e pensamento e Deus permite que ele seja apreendido em êxtase, atribuindo-lhe o dom da verdade eterna e as bênçãos da idade a vir .

Assim, o conhecimento espiritual é bom se enche de vergonha o seu possuidor e se por isso o leva involuntariamente para a humildade, fazendo-o pensar que ele possui tal conhecimento indignamente .

No oposto o orgulho e a soberba só o cegam e fazem cair sem remédio pois essa paixão é capaz de tomar o lugar dos outros vícios todos .




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