6 Práticas de Purificação Espiritual em periodo de Quaresma cristã ou Renascimento Interior
1) Desconfiar do
nosso afeto de propriedade (instinto de
posse)
Quem
tem fome, impacienta-se
enquanto não come.
Quem se impacienta,
apega-se a algo, neste caso, o alimento,
e perde o controle de si
como Ser Livre-Desapegado, perde
a Paz Interior
e desvia-se da Estrada
Real.
Quem assim se encontra é prato fácil das ‘tentações
consumistas’ deste
mundo e nele se
perde.
‘’Nem
só de pão vive o homem’ pois o seu
Alimento principal é a Luz
Interior que lhe dá a Paz e a Liberdade da sua Alma.
Infelizmente, Adão e Eva seguiram este caminho errado
: apoderaram-se diretamente do fruto. E nós fazemos o mesmo
quando vivemos como seres
independentes, esquecidos
de que tudo nos vem de Deus «Que tens tu que não tenhas recebido?»
Para João da Cruz o obstáculo
principal ao nosso crescimento
espiritual reside naquilo a que ele chama o nosso «afeto
de propriedade»
Deus não pára de nos dar, e nós recebemos
pensando que esse
dom é só para nós, ou então que obtivemos esse dom porque o
merecemos.
Pior, por
vezes servimo-nos a nós mesmos à custa do bem dos outros porque
temos inveja.
«A nossa vã ganância é de tal condição
e sorte que a todas
as coisas se quer apegar; é
como o caruncho: carcome o que é bom e faz a sua
obra em coisas boas e más.»
Assim nos agarramos a todas as coisas,
muitas vezes
inconscientemente, porque pensamos que somos o centro do
universo.
E
admiramo-nos porque os outros não parecem perceber isso assim
tão claramente…
Esta constatação
geral não diz respeito apenas às realidades materiais, mas
também aos bens
espirituais.
A nossa atitude de posse faz com que
não aproveitemos bem os dons
de Deus e que os desperdicemos.
Isso conduz à perda das «mercês de
Deus,porque [a alma] as
toma com propriedade e não se aproveita bem delas.
E tomando-as com propriedade,
e não se aproveitando delas, é querê-las tomar.
Porque Deus não as dá para que
a alma as queira tomar» de forma egoísta
.
Em vez de acolher reconhecidos esses dons e
de os pormos ao
serviço dos outros, consideramo-los muitas vezes com
autocomplacência e caímos
no delito de desviar as graças todas para nós.
2) Desapegar-se…
para
aproveitar melhor
Não
desprezar os dons
que recebemos, sejam eles naturais ou espirituais: tal talento
inato, tal bem
material, tal graça espiritual recebida. Mas, para melhor
os aproveitar, temos
que nos desapegar deles.
No homem espiritual «o gozo e o prazer das
criaturas, aumenta
mais desprendendo-se delas do que se olhar para elas com
o desejo de as possuir.
Este é um cuidado a ter, porque [o apego]
causa uma inquietação que, como um
laço, amarra o espírito à terra e não lhe deixa ter o
coração livre.»
Sabemos por experiência: a nossa atenção é
mobilizada pelas
coisas às quais estamos apegados. Quando estamos
focados em determinada coisa
não conseguimos ver o que se passa à
volta e a nossa interioridade permanece
estreita e egoísta.
Aquele
que não se
considera possuidor, ao
não estar preso, «goza de todas as coisas como se as
possuísse», enquanto o que as considera como sua propriedade
«perde o gosto de
todas elas em geral.
O primeiro, parecendo
não ter nenhuma delas no coração,
tem-nas todas com grande liberdade, como diz S. Paulo (2 Co
6,10);
o segundo,
porque tem a vontade um pouco presa a elas, não tem nem
possui nada.
Ao contrário,
elas é que lhe roubam o coração
e, por isso, como cativo, pena. Daqui se conclui,
portanto, que aos gozos que quiser ter nas criaturas, hão
de necessariamente corresponder
outras tantas aflições e penas do seu preso e
apossado coração.
A quem
está desprendido, as preocupações não o apoquentam
nem na oração nem fora dela. Sem perda de tempo, granjeia
facilmente muitos
bens espirituais.»
A Lliberdade a que fomos
chamados é à Liberdade de sermos filhos
do Criador do Universo :
a capacidade de aproveitar de todas as
coisas e de não sermos submergidos pelas nossas preocupações.
Pelo contrário,
aquele que não empreende este trabalho de desapego continua escravo daquilo a
que está apegado.
O seu coração está
possuído e sofre terrivelmente.
Julga-se
livre, mas está escravizado pelas suas paixões.
Só o apego ao Criador nos torna
livres e semelhantes a Ele e nos dá Paz interior
neste mundo de transição para
a nossa verdadeira Pátria.
Na tradição cristã, face ao diabo, Jesus
demonstra ser um homem
profundamente livre; afirma a sua
identidade ao rejeitar todas as armadilhas do adversário.
E
consegue fazê-lo porque
está desapegado de tudo exceto do seu Pai Criador do
Universo.
3) Recorrer ao
Discernimento e à Razão.
É de capital importância para o caminho
espiritual
conhecermos bem as fases
desse mesmo Caminho com base nas tradições escritas e
orais, ignorar isso é caminharmos sem rumo
e ás cegas para o abismo .
Como
poderíamos unir-nos ao Senhor se não O conhecêssemos?
Esse Conhecimento discernido ajudar-nos a calar os
pensamentos interiores que nos causam
perturbação.
Por exemplo, se me sentir
tentado pelo desencorajamento, digo: «O Senhor é minha luz e
salvação; de quem
terei medo?»
Se for
provado pela
inveja, digo: «Na partilha foram-me destinados
lugares aprazíveis e é preciosa
a herança que me coube.» .
Compete-me descobrir as passagens das
Sabedorias que mais me
ajudarão a lutar contra os pensamentos de morte e a redescobrir
a Paz interior
e a comunhão com Deus.
4) Recorrer à nossa
compreensão da Fé
Além de
Conhecer é
preciso aplicar a nossa razão- compreensão na
altura de agir.
Conhecemos este procedimento
humano: citar o que alguém disse fora do contexto
em que foi dito para
desacreditar essa pessoa.
João da Cruz insiste no papel da nossa
inteligência para a
vida espiritual. O Verbo (logos, em grego) significa Palavra,
mas também Razão.
A nossa razão é desde logo um dom de Deus que nos
ajuda a ler corretamente como devemos agir.
É, pois, inútil procurar revelações
extraordinárias que poderiam desviar-nos
do Caminho certo.
Não nos deixemos, por isso, impressionar por qualquer
acontecimento milagroso que possa ser um
artifício humano ou diabólico.
«Não há necessidade nenhuma disso, pois
existe a razão
natural, a lei e as doutrinas das várias tradições espirituais
por onde se
podem muito bem reger.
Se nos comunicassem coisas sobrenaturais,
quer queiramos ou
não, só devemos aceitar aquilo que se
coaduna muito bem com a razão
e o Saber.»
O ser humano tem fascínio pelo
paranormal e pelo
extraordinário.
Embora Deus possa agir de maneira
espetacular, raramente o faz
e só se não Lhe deixarmos outra opção. O que nos convida, pois,
a uma grande
prudência e à escuta da voz Interior acerca de
tudo o que sai do ordinário: aparições,
sinais, milagres, etc.
O discernimento far-se-á a seu tempo.
É
necessário que
tenhamos confiança na razão mas também no
acompanhamento espiritual no qual
escutamos a voz Interior que nos guia e orienta.
5) A caminho da
Liberdade
Agora
já nos
apercebemos melhor de que a nossa jornada Espiritual não
será uma viagem
aprazível.
Não faltarão turbulências nem desilusões.
As tentações são muitas e capazes
de utilizar o nosso
desejo de Luz para nos
enganar:
Não nos deixemos enganar
pelas falsas
grandezas deste mundo.
Recordemo-nos que não podemos ser
santos pelas nossas
próprias forças, mas apenas estando sempre na dependência do
nosso Pai.
Quanto mais formos Filhos e Filhas de
Deus,mais seguros
estaremos.
Os Filhos de Deus são livres de si mesmos e
esta liberdade é bem
diferente da liberdade do mundo que as tentações nos apresentam
.
«Todo o
senhorio e liberdade do mundo, comparado com a liberdade e
senhorio do espírito
de Deus, é sumamente escravidão, angústia e cativeiro.
(…) [a liberdade não
pode habitar num coração curvado a quereres, porque é coração
de escravo, mas
num livre, que é coração
de Filho.»
6) A caminho da Transformação
É necessário que aceitemos entrar num
profundo caminho de
transformação.
Não poderemos
unir-nos a Deus sem mudar
radicalmente a forma de
pensar, falar e agir.
O Papa Francisco tem esta frase que resume
este dificil
caminho ‘’ Não devemos
ser como as «pessoas
que de cristãs só têm o verniz’’ . Hoje uma
gratificação, outro dia uma cunha
e, pouco e pouco, chegamos à corrupção».
Tornamo-nos
então «cristãos mundanos,pagãos pintalgados com duas
pinceladas de
cristianismo», «habituados à mediocridade» .
Ofereçamo-nos então com confiança ao Espírito Divino
que nos
conduziu ao deserto.
Ele saberá destruir o
obstáculo em nós e fazer-nos
caminhar cada vez
mais alto até aos cumes de Deus.
Boa
caminhada
Bela publicação!
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