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sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

6 Práticas de Purificação Espiritual


6  Práticas de Purificação Espiritual em periodo de Quaresma cristã ou Renascimento Interior

1)  Desconfiar do nosso afeto de propriedade  (instinto de posse)

Quem tem fome, impacienta-se enquanto não come.
Quem se impacienta, apega-se a algo, neste caso, o alimento, e perde o controle de si como Ser  Livre-Desapegado, perde a Paz  Interior e desvia-se da Estrada Real.
Quem assim se encontra é prato fácil das ‘tentações consumistas’  deste mundo e nele se perde.
‘’Nem só de pão vive o homem’  pois o seu Alimento principal é a Luz Interior que lhe dá a Paz e a Liberdade da sua Alma.
Infelizmente, Adão e Eva  seguiram este caminho errado : apoderaram-se diretamente do fruto. E nós fazemos o mesmo quando vivemos como seres independentes, esquecidos de que tudo nos vem de Deus   «Que tens tu que não tenhas recebido?» 

Para João da Cruz o obstáculo principal ao nosso crescimento espiritual reside naquilo a que ele chama o nosso «afeto de propriedade»
Deus não pára de nos dar, e nós recebemos pensando que esse dom é só para nós, ou então que obtivemos esse dom porque o merecemos. 
Pior, por vezes servimo-nos a nós mesmos à custa do bem dos outros porque temos inveja.
«A nossa vã ganância é de tal condição e sorte que a todas as coisas se quer apegar; é como o caruncho: carcome o que é bom e faz a sua obra em coisas boas e más.»

Assim nos agarramos a todas as coisas, muitas vezes inconscientemente, porque pensamos que somos o centro do universo. 
E admiramo-nos porque os outros não parecem perceber isso assim tão claramente…
Esta constatação geral não diz respeito apenas às realidades materiais, mas também aos bens espirituais. 
A nossa atitude de posse faz com que não aproveitemos bem os dons de Deus e que os desperdicemos.

Isso conduz à perda das «mercês de Deus,porque [a alma] as toma com propriedade e não se aproveita bem delas
E tomando-as com propriedade, e não se aproveitando delas, é querê-las tomar. Porque Deus não as dá para que a alma as queira tomar»  de forma egoísta .
Em vez de acolher reconhecidos esses dons e de os pormos ao serviço dos outros, consideramo-los muitas vezes com autocomplacência e caímos no delito de desviar as graças todas para nós.


2)  Desapegar-se… para aproveitar melhor

 Não desprezar os dons que recebemos, sejam eles naturais ou espirituais: tal talento inato, tal bem material, tal graça espiritual recebida. Mas, para melhor os aproveitar, temos que nos desapegar deles.
No homem espiritual «o gozo e o prazer das criaturas, aumenta mais desprendendo-se delas do que se olhar para elas com o desejo de as possuir

Este é um cuidado a ter, porque [o apego] causa uma inquietação que, como um laço, amarra o espírito à terra e não lhe deixa ter o coração livre.»
Sabemos por experiência: a nossa atenção é mobilizada pelas coisas às quais estamos apegados. Quando estamos focados em determinada coisa não conseguimos ver o que se passa à volta e a nossa interioridade permanece estreita e egoísta.

Aquele que não se considera possuidor, ao não estar preso, «goza de todas as coisas como se as possuísse», enquanto o que as considera como sua propriedade «perde o gosto de todas elas em geral. 
O primeiro, parecendo não ter nenhuma delas no coração, tem-nas todas com grande liberdade, como diz S. Paulo (2 Co 6,10); 
o segundo, porque tem a vontade um pouco presa a elas, não tem nem possui nada. 
Ao contrário, elas é que lhe roubam o coração e, por isso, como cativo, pena. Daqui se conclui, portanto, que aos gozos que quiser ter nas criaturas, hão de necessariamente corresponder outras tantas aflições e penas do seu preso e apossado coração.

A quem está desprendido, as preocupações não o apoquentam nem na oração nem fora dela. Sem perda de tempo, granjeia facilmente muitos bens espirituais.»

A Lliberdade a que  fomos chamados é à Liberdade de sermos filhos do Criador do Universo  : a capacidade de aproveitar de todas as coisas e de não sermos submergidos pelas nossas preocupações. Pelo contrário, aquele que não empreende este trabalho de desapego continua escravo daquilo a que está apegado
O seu coração está possuído e sofre terrivelmente. 

Julga-se livre, mas está escravizado pelas suas paixões. 

Só o apego ao Criador nos torna livres e semelhantes a Ele e nos dá Paz interior neste mundo de transição para a nossa verdadeira Pátria.
Na tradição cristã, face ao diabo, Jesus demonstra ser  um homem profundamente livre; afirma a sua identidade ao rejeitar todas as armadilhas do adversário. 
E consegue fazê-lo porque está desapegado de tudo exceto do seu Pai Criador do Universo.


3)  Recorrer ao Discernimento e à Razão.

É de capital importância para o caminho espiritual conhecermos bem as fases desse mesmo Caminho com base nas tradições escritas e orais, ignorar isso é caminharmos  sem rumo e ás cegas para o abismo .

Como poderíamos unir-nos ao Senhor se não O conhecêssemos?

Esse Conhecimento discernido ajudar-nos a calar os pensamentos interiores que nos causam perturbação.  
Por exemplo, se me sentir tentado pelo desencorajamento, digo: «O Senhor é minha luz e salvação; de quem terei medo?»
Se  for provado pela inveja, digo: «Na partilha foram-me destinados lugares aprazíveis e é preciosa a herança que me coube.» .

Compete-me descobrir as passagens das Sabedorias que mais me ajudarão a lutar contra os pensamentos de morte e a redescobrir a Paz interior e a comunhão com Deus.

4)  Recorrer  à nossa compreensão da  

Além  de Conhecer é preciso aplicar a nossa razão- compreensão na altura de  agir.
Conhecemos este procedimento  humano: citar o que alguém disse fora do contexto em que foi dito para desacreditar essa pessoa.
João da Cruz insiste no papel da nossa inteligência para a vida espiritual. O Verbo (logos, em grego) significa Palavra, mas também Razão. 
A nossa razão é desde logo um dom de Deus que nos ajuda a ler corretamente como devemos agir.  

É, pois, inútil procurar revelações extraordinárias que poderiam desviar-nos do Caminho  certo.
Não nos deixemos, por isso, impressionar por qualquer acontecimento milagroso que possa ser um artifício humano ou diabólico.
«Não há necessidade nenhuma disso, pois existe a razão natural, a lei e as doutrinas das várias tradições espirituais por onde se podem muito bem reger.
Se nos comunicassem coisas sobrenaturais, quer queiramos ou não, só devemos aceitar aquilo que se coaduna muito bem com a razão e o Saber.» 

O ser humano tem fascínio pelo paranormal e pelo extraordinário
Embora Deus possa agir de maneira espetacular, raramente o faz e só se não Lhe deixarmos outra opção. O que nos convida, pois, a uma grande prudência e à escuta da voz Interior acerca de tudo o que sai do ordinário: aparições, sinais, milagres, etc. 
O discernimento far-se-á a seu tempo. 
É necessário que tenhamos confiança na razão mas também no acompanhamento espiritual no qual escutamos a voz Interior que nos guia e orienta.


5)  A caminho da Liberdade

Agora já nos apercebemos melhor de que a nossa jornada Espiritual não será uma viagem aprazível. 
Não faltarão turbulências nem desilusões. 
As tentações são muitas e capazes  de utilizar o nosso desejo de Luz  para nos enganar:  

Não nos deixemos enganar pelas falsas grandezas deste mundo.

Recordemo-nos que não podemos ser santos pelas nossas próprias forças, mas apenas estando sempre na dependência do nosso Pai.

Quanto mais formos Filhos e Filhas de Deus,mais seguros estaremos. 
Os Filhos de Deus são livres de si mesmos e esta liberdade é bem diferente da liberdade do mundo que as tentações nos apresentam . 

«Todo o senhorio e liberdade do mundo, comparado com a liberdade e senhorio do espírito de Deus, é sumamente escravidão, angústia e cativeiro. (…) [a liberdade não pode habitar num coração curvado a quereres, porque é coração de escravo, mas num livre, que é coração de Filho


6)  A caminho da Transformação

É necessário que aceitemos entrar num profundo caminho de transformação
Não poderemos unir-nos a Deus sem mudar radicalmente a forma de pensar, falar e agir.

O Papa Francisco tem esta frase que resume este  dificil caminho ‘’ Não devemos ser como as  «pessoas que de cristãs só têm o verniz’’ . Hoje uma gratificação, outro dia uma cunha  e, pouco e pouco, chegamos à corrupção». 
Tornamo-nos então «cristãos mundanos,pagãos pintalgados com duas pinceladas de cristianismo», «habituados à mediocridade» .

Ofereçamo-nos então com confiança ao Espírito Divino que nos conduziu ao deserto. 

Ele saberá destruir o obstáculo em nós e fazer-nos caminhar cada vez mais alto até aos cumes de Deus.

Boa caminhada


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