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quinta-feira, 29 de junho de 2017

A Vida é um hospital ??


A Vida é um hospital ??
Como se transforma o Caos em Cosmos ?
Relações sobre a Dor, o Sofrimento e a Cura fisica e Espiritual
 


Os extremos da condição humana são visíveis: a linha fina da mortalidade que constantemente acompanhamos, felizes e atarefados, num certo momento, e doentes, logo a seguir, sempre a caminhar na corda bamba entre o bem-estar e a dor; e, no outro extremo, para o isolamento e o medo que isto cria em nós.

Muitas vezes, ligamos as palavras “bom” e “saúde”.
Porém, ambas precisam de ser tratadas com cuidado.
Ser chamado bom é gratificante.
Ser chamado mau cria vergonha (ou negação).
Estar de boa saúde não significa que sejamos boas pessoas.
Estar de má saúde pode bem conduzir-nos a ser uma melhor pessoa do que éramos até aí.
A bondade vivida num Serviço de Urgência brilha por meio dum altruísmo poderoso e prático pelos médicos -enfermeiros e voluntários que poêm o seu Coração ao serviço dos doentes.


Doentes que se auto-isolam e têm medo são também tocados, por uma consciência de cura quase dolorosamente aguda.
Esta significava a nossa capacidade para viramos a nossa atenção de nós para os outros, como se isto fosse sempre a coisa mais fácil e mais natural de fazer para qualquer pessoa. 

Esta ligação entre a dor e o altruísmo (o sofrimento e o amor) parecia-me ser o canal principal de cura e a ambiência de cuidado e de atenção que permeava todo o serviço.
As condições extremas – e há poucos sítios mais extremos do que um Serviço de Urgência – onde as tensões da vida são mantidas num equilíbrio rude, podem revelar profundos mistérios sob formas muito simples.


Houvesse altruismo identico nos meganegócios do mundo financeiro, do espectáculo ou da política ou nos funcionários da Emigração que controlam os refugiados.

A vida é um lugar de cura.

Todos precisamos de sarar, de diferentes modos e em tempos diferentes, física, emocional ou espiritualmente.
Não há vergonha nisso, embora a nossa necessidade de cura seja, muitas vezes, sentida como uma fraqueza que deveríamos esconder dos outros, como escondemos as nossas partes privadas ao vestir-nos bem.
Ser visto como uma “imagem de saúde” é gratificante e, quando encontramos alguém, é frequente elogiar-nos uns aos outros com: “Que bom vê-lo; está com tão bom aspecto!”
Depois, por precaução, acrescentamos: “Como é que tem passado?”
Porém, a saúde mais profunda e a plenitude não são estados que consigamos assegurar do mesmo modo que criamos um plano de reforma.
A saúde profunda não é nem uma posse nem o resultado da sorte.
É um dom que flui continuamente, através do processo de cura.
Não nos podemos agarrar a ele porque está sempre a preparar-se para o estágio seguinte da viagem.


O hospital da vida dá as boas-vindas tanto aos saudáveis como aos doentes.
A distinção entre estes dois estados da vida não é tão exclusiva quanto possa parecer.
Como é que sabemos que o médico que está a tratar o nosso braço partido não acabou de ser diagnosticado com uma doença terminal?
Ou que, talvez, o choque desse diagnóstico venha a conduzir a uma integração mais rica da personalidade, a uma reconciliação das partes destroçadas da pessoa e uma melhor capacidade de amar os outros?


Os sintomas de saúde e os sintomas de doença são muito diferentes.
A ordem, a harmonia, a paz mental, a flexibilidade, a espontaneidade, a beleza atraente (por um lado) e o caos, a violência, a agressividade, o desequilíbrio e a repugnância natural (por outro lado).
Porém o pior pode ser transposto para o melhor. 



Começa pela aceitação. 


O primeiro passo pode ser o mais difícil.
As piores notícias criam, naturalmente, a tentação de negar aquilo de que não gostamos.
Vemos isso demonstrado em conferências de imprensa políticas e em entrevistas todos os dias e que se podem tornar autoconvincentes e acabarmos acreditando nas falsas notícias que estamos a ouvir-ver-ler.


O primeiro passo é sermos honestos connosco mesmos e com os outros.
Depois da aceitação vem a adaptação.


Estar encarcerado e desumanizado pode provocar uma enorme negação e um desespero zangado, mas, com o tempo e com ajuda, a aceitação conduz também à auto-adaptação. 
Então, aprender a meditar transforma-se numa profunda cura da vergonha pelo passado e numa reintegração do “eu” dividido.
Depois de nos vermos como rejeitados, encontramos um novo respeito próprio no autoconhecimento e na sabedoria.
Porque pensa na prisão como uma punição e, apenas formalmente, como reabilitação, o sistema penal raramente repara no tipo de transformação pessoal que muda para melhor os presos.
Quanto melhor um curador conhece a natureza da doença, melhor a pode tratar.


A doença e a má-sorte, muitas vezes, despertam um sentimento de culpa ou responsabilidade, sejamos nós ou outros quem sofre.
O ego crê que Deus recompensa os bons e aflige os maus.
O ego é sempre muito sensível à sua reputação.

Porém, o facto de ocorrer a cura denuncia esta falácia.
As feridas podem curar, a doença pode trazer uma saúde mais profunda do que alguma vez conhecemos e ser-se esmagado pode evoluir para ser-se reerguido mais alto e mais saudável do que poderíamos ter imaginado.
Mais ainda, o sofrimento pode ser redentor. 



Na Mitologia Grega, a primeira coisa a existir, sem uma fonte parental, foi o Caos.
Era o vazio, o nada de que tudo, até os deuses, emerge.
É o submundo da escuridão e da lama.
A palavra quer dizer buraco ou abismo porque é o espaço entre o céu e a terra.
É preciso compreender o mito de forma psicológica.
Quando a doença nos assoberba, mental ou fisicamente, mergulhamos no caos interior.
Um abismo de separação abre-se entre nós como éramos e nós como somos agora.
Não conseguimos relacionar-nos com nada nem com ninguém como anteriormente.
Não gostamos do caos e estamos muitas vezes prontos a assumir falsos compromissos, a negar o que é evidente, a isolar-nos dos outros para evitarmos cair no abismo.


No entanto, negar o sofrimento ou a perda significa negar a nossa necessidade de cura.
Com custos crescentes para o nosso bem-estar e sanidade, mantemos as aparências, como se nada tivesse acontecido.
A geração dos meus pais era resiliente e contava consigo própria de uma forma que os seus filhos bem podem invejar.
Mas também, muitas vezes, as pessoas escondiam os seus sentimentos e recusavam-se a pedir ajuda quando dela mais precisavam.
Os seus mecanismos de sobrevivência foram formados pelo século mais violento da História humana, mas a própria repressão é uma violência contra nós mesmos.
Hoje em dia, a repressão é ainda mais fácil.
A realidade virtual está na ponta dos nossos dedos.
O clique do rato e o engolir duma pílula transportam-nos para outro mundo onde sentimos, por um tempo, que temos o controlo e que escolhemos o que quisermos para nos fazer sentir melhor .... ILUSÕES ....... de um doente que rejeita a cura pela Realidade que pode ser dor e sofrimento.

A tecnologia parece, muitas vezes, suspeita às pessoas de orientação espiritual.
A ciência e os objectos tecnológicos são, muitas vezes, empregados ao serviço do ego narcisista.
No entanto, no final, o irreal passa por uma morte inevitável e a repressão e a auto-ilusão, as falsas aparências colapsam.
Há uma oposição entre a tecnologia e o divino que fazia com que fosse mais fácil as pessoas, numa cultura tecnológica, caírem no caos.

As amizades do Facebook podem oferecer algum alivio face à solidão do espaço digital que habitam; mas, tal como todas as falsas consolações, desilude-os e trai quem eles são em profundidade.

O caos está sempre a ameaçar tomar conta da existência humana, sugar de nós a esperança.

O abismo da nossa mortalidade e das dores da perda e da separação desestabilizam constantemente a segurança de que precisamos para crescer.
A vida é um hospital movimentado.
Temos que assegurar que seja quem for que conheçamos ou com quem trabalhemos, neste lugar de cura, encontra as boas-vindas.

É assim que o Caos se transforma em Cosmos.

 

A ordem e a harmonia transformam o caos.
O Espírito antes pairava sobre a face informe do abismo, sem luz.
Ele trouxe à existência a variedade colorida da Criação.
Assim, também, o nosso próprio espírito pode enfrentar o caos dentro de nós mesmos e fazer dele uma nova criação.
Neste novo mundo, encontramos novamente os que morreram e que, como nos parece à primeira vista, retornaram ao caos.
A sua forma que amávamos dissolveu-se e eles parecem flutuar para o grande esquecimento.
Porém, a Ordem e a Harmonia do homem de Espirito prova ser um laço inquebrável que alcança bem para além do caos da separação.
Já não os conhecemos “segundo a carne”, como dizia S. Paulo do Cristo Ressuscitado.

O caos, é uma realidade com que temos que contar.
Tal como a corrupção no corpo da política, ele não deve ser negado nem deve ser subestimado o seu poder de causar destruição.
Pode ser confrontado e pode surgir a cura através duma esperança nascida da evolução espiritual do homem.


Esta é uma necessidade de emergência na nossa era digital e dividida.

O caos engendra o medo.
Sentimo-lo fortemente nas esferas política e social de hoje.
Mas ele pode ser desarmado e transformado em Harmonia Curativa.
As redes de cura, de apoio mútuo, de ensino, de inspiração e de pura celebração, a elaboração de projectos de visão partilhada e de articulação de novas ideias para ligar em vez de polarizar: estas são as ferramentas e expressão de vida da comunidade.
Através delas, ao mesmo tempo, abraçamos a nossa própria necessidade de cura e levamos socorro aos outros. 


A verdadeira transformação pessoal deve ser o objectivo, não apenas construir um refúgio para escapar ao caos que nos rodeia.

Na pobreza do silêncio, rodeada pelo riso e pela liberdade de pessoas destemidas, pode acontecer uma grande e criativa escuta.
Nos restaurantes e nos elevadores, nas linhas telefónicas de serviço ao cliente e nos aeroportos, o medo do silêncio está reflectido no volume cada vez mais alto da música de fundo, da publicidade e da conversa trivial.
Elas mascaram os sintomas de caos, mas não lidam com o problema.
Como todas as formas de distracção, uma das maiores causas de caos, hoje em dia, elas escondem em vez de curar, sejam elas como diziam no Estado Novo, o vinho, o fado e o futebol....ou hoje em dia com as ditas 'democracias', centros de auto ajuda, fantasias das redes sociais, miriades de pseudo cultos -religiões, workshops de mindfullness- coaching - auto ajuda, etc....etc..... 


O silêncio é necessário para o espírito humano florescer. 


Pode parecer um disparate para muitos, mas não há maior necessidade, no mundo moderno, do que as pessoas, jovens ou idosas, religiosas ou secularizadas, ricas ou pobres, recuperarem a experiência do silêncio.
Todos precisamos de ajuda e da comunidade; mas todos temos que aprender a meditar na nossa própria experiência.
O silêncio restabelece a ligação com a nossa própria fonte de autocura.
Restaura a verdade na forma como comunicamos e constrói uma forte ligação interior que transcende o medo da morte e do caos.


Porquê ter medo deste silêncio, se ele está ali, aqui, dentro de nós?
Só precisamos de entrar nele para se tornar o silêncio que cura.
                                                                                             

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