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sexta-feira, 22 de abril de 2016

Elisabete da Trindade - Parte 3




Doutrina Espiritual

A Inabitação da Trindade na criatura

Para Elisabete, o mistério da Inabitação divina é a certeza, pela fé, da presença de Deus no ser humano, o ponto central da doutrina da Inabitação e de sua vida: entrar neste “Castelo Interior”, como fala Santa Teresa de Jesus, para aí encontrá-lo e perceber os sinais de sua presença.

O Espírito Santo leva cada pessoa no caminho da conversão e da santificação pessoal, quando esta se deixa “conduzir” por Ele , permite o Espírito agir, orar e amar nela.

Eleva-a à Trindade, até que “Elisabete desaparece, perde-se e se deixa invadir pelos Três”.

A Trindade é a verdadeira Pátria da nossa alma, “A Trindade: aquí está nossa morada, nosso lugar, a casa paterna de onde jamais devemos sair... ".


O fim último do homem, o motivo da sua existência, para Isabel é a visão no Céu,  desta Trindade na Unidade Divina, ‘’o conhecimento da Trindade na Unidade é o fruto e o termo final de toda a nossa vida’’. 

No Céu, porque na terra mesmos os Santos apenas conseguem um vislumbre nublado desse Grande Mistério.

A criatura humana é o lugar predileto da Inabitação da Trindade, haja visto que, com ela, Deus entra em um intercâmbio dialógico e amoroso.

O “Nada” que descobriu ser não a impedia de avançar firme e mergulhar no “Tudo”: Deus. 

Elisabete está consciente da necessidade de morrer, para ressuscitar.
“Se o grao de trigo que cai na terra não morrer, permanecerá só” (Jo 12,24)

A vivência do mistério da Inabitação é um constante exercício de identificação com Jesus Cristo,na busca da Vontade do Pai, na realidade onde está inserido.
É total obediência.


Estabelece-se a Inabitação de Deus, quando Ele vive e mora no ser humano, quando dispõe da vontade humana, como oferecimento e consentimento.

Habitar em uma casa é dispor dela; a habitação perfeita supõe a propriedade e o poder de usar de tudo que a casa tem, segundo o próprio querer. 
Deus Trindade não quer ser somente hóspede, mas também estabelecer a sua morada permanente, como alguém íntimo e participativo de tudo o que acontece nessa casa. 
Fazer-se casa é ter a mentalidade de ser casa.

Elisabete compreende que é necessário se deixar orientar e conduzir pela Ruah (sopro, vento, vendaval e furacão) divina. 

Reconhece que tudo do que é capaz de transformar nela é graça de Deus, o próprio Deus agindo nela. 
O amor transforma, aos poucos, todo ser e agir de Elisabete. 
Quem  ama tem o coração conectado com o objeto amado, fala e age de acordo com essa conexão de amor. 

A participação da vida social não a desvia de seu objetivo : viver na interioridade.

A sua vida interior intensa a faz voltar-se constantemente Àquele que aí habita e recolher-se em sua “casa” e nela desfrutar da companhia do morador divino. 

Basta entrar dentro de si e aí encontrá-lo.

Deseja elevar-se acima de todo o criado; viver desnudada daquilo que impede sua transfiguração; encontrar-se inteira e chegar ao cume de seu itinerário espiritual: “Só com o Só”

Viver o mistério da Inabitação é perceber a presença amorosa e envolvente de Deus no universo, sem confundi-lo com seu Criador.




O silêncio

Elisabeth da Trindade tem um amor especial pelo silêncio, porque o silêncio é o que a permite estar a sós com Deus. 
Para ela, a fim de poder viver com Deus, uma ascese do silêncio é necessária: na realidade todos os barulhos exteriores e interiores (a imaginação, a sensibilidade e o intelectualismo) são obstáculos à presença de Deus. 

Silêncio do intelecto: nada de pensamentos inúteis.

Silêncio do julgar: nada da hiper-critica do mundo moderno.

Silêncio da vontade; que opera na alma o grande silêncio do Amor.


"Escuta minha filha, apura o teu ouvido, esquece o teu povo, e a casa do teu pai e o Rei ficará enamorado de ti".

Apura o teu ouvido para escutares o silêncio das potências adormecidas, pela unidade do teu ser.

Esquece o teu povo, esquece teus apegos ao mundo exterior, sensibilidades, recordações, impressões, numa palavra...o teu eu.

Esquece a casa do teu pai, deixa a vida natural para viveres a sobrenatural, deixa a carne para viveres do Espírito.

Logo que rompas, te libertes disso tudo, o Rei fica enamorado da tua beleza, porque sendo Uno és Belo.

És uno se viveres no Eterno presente, sem antes ou depois, inteiro na unidade do teu ser, no agora Eterno. Então serás perfeito como o Pai é Perfeito.

Quando a criatura despojada vive no seu silêncio, o Criador contempla-a e enamora-se dela e fá-la passar para essa imensa, infinita solidão, esse lugar 'espaçoso', onde Ele se faz ouvir, pois essa solidão é a Sua própria Divindade.


‘’Se tudo em mim, desejos, temores, alegrias, dores, não estiver ordenado para Deus, eu não serei silenciosa, haverá ruido em mim e a minha alma não conseguirá vibrar na mesma frequencia de Deus e Ele não a toca, porque ainda há muito excesso de humano nela’’.  

O silêncio, segundo a espiritualidade de Elisabeth da Trindade, não tem então um fim em si mesmo, mas procura permitir que a alma possa estar com Deus.


Silenciar, para ouvir o “balbuciar” do Eterno em seu coração, Elisabete direciona os sentidos exteriores no que diz respeito às relações com as coisas terrenas. 

Eles devem se aquietar, para dar lugar à Ruah divina que sussurra palavras inaudíveis.

Tudo em nós se deve calar ; os sentidos exteriores, em relação ás coisas da terra; e as potências interiores, em relação a todos os ruidos que vêm do intimo de nós.

Quando este silêncio interior se estabelece na alma, ‘’ele permite a Deus se imprimir nelas e as transformar em Si’’.


Realiza-se então o fim último da vida humana, a União Transformadora onde o Mestre fica livre, livre de Se escoar, de Se dar, tanto quanto a alma O comporta; e a alma assim simplificada se torna o trono do Imutável, como a Unidade é o trono da Trindade.

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