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quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Xamanismo e Sufismo, suas relações

   
Xamanismo e Sufismo, cruzamento de culturas espirituais


O Xamanismo é das mais antigas culturas espirituais da humanidade.

Sua meta é pelo contacto com o mundo espiritual obter o equilibrio e o bem estar de uma tribo-população por meio de um intermediário que tem essa capacidade espiritual de intermediação, o Xamã.

Esse equilibrio e bem estar consiste na sobrevivencia da tribo seja pela caça de animais seja pela cura dos seus membros em ‘desiquilibrio’ ( actuando no plano espiritual para curar no plano fisico). 

Sessão xamanica no Uzbequistão  

Como técnicas base usam o som (tambores, matracas, etc) e o movimento corporal em danças ritmadas (imitando por exemplo os movimentos dos animais de que dependem) para estabelecer essa comunicação espiritual (hoje chamada de estado alterado de consciência) durante viagens induzidas, donde trazem as respostas às questões colocadas pela tribo ou pelos seus membros.

O Sufismo é a faceta mais esotérica da espiritualidade árabe.

Sua meta é a comunicação directa do individuo com o plano divino para, neste caso, se produzir uma evolução espiritual pessoal , que estabelece o equilibrio do homem consigo mesmo e com a Divindade Allah.

A sua cerimónia mais conhecida é o Dikr, reunião de adeptos que por meio do movimento corporal ritmado e da vocalização exaustiva dos nomes de Allah, pretendem alcançar essa meta de união com o Divino dentro deles (o equilibrio interno desejado).
 
 Dikr Sufi no Uzbequistão 

Históricamente estas duas culturas evoluiram em separado mas em certos casos e certos povos a partir de uma dada altura na história e como resultado  da movimentação dos povos,  houve uma mistura muito interessante entre elas. 

Esta mescla fez-se sobretudo na Asia central, de inicio, apenas xamanica, e que com o avanço nessa zona da influencia arabe, foi produzindo essa mistura de culturas.

Assim os xamãs nessa zona foram progressivamente ‘adaptando’ o cerimonial do dikr não para a união com o Divino mas para a cura, usando a formula da vocalização dos nomes de Allah para ‘chamar’ os espiritos da cura.

Nessas zonas ( Uzbesquistão, Kazaquistão e provincia chinesa de Xinjiang) os tumulos dos santos sufis eram usados pelos xamãs locais como local de recolhimento e ‘incubação’ onde pelos sonhos recebiam as instruções dos espiritos para os problemas que lá iam colocar.  

  Tumulo de santo Sufi na Mongólia chinesa

No Kazaquistão acredita-se que pelo sonho se estabelece a ligação com os espiritos dos ancestrais e aí a própria sessão xamanica tem o nome de Dikr.

No processo de cura, de ‘jogo’ com os espiritos, o xamã Kazah pode recitar 1000 vezes a formula sufi Lâ ilâha illa’ llâh (não existe nada senão Deus) ou 500 vezes a formula Allâhu akbar ( Deus o Poderoso) ambas utilizadas pelos sufis nos seus Dikr, sendo a única diferença que no trabalho do xamã apenas ele vocaliza e toca tambor (não quem assiste) e na cerimónia sufi essa vocalizacão pode começar no mestre da cerimónia mas de seguida é feita por todos os presentes.

A influencia xamanica, em processo inverso, também se produziu em zonas como na Turquia, onde chegaram os povos nómadas turcos da Asia central com suas culturas e que posteriormente se islamizaram.

Nessa zona existe uma ordem muçulmama, os Alévi-Bektachi, que sincretiza o islamismo com as crenças nómadas xamanicas. 
Aqui o celebrante já perdeu a ’arte’ de xamanizar, já não ‘cura’, pois apenas deseja a união pessoal com o Divino mas para isso usa ‘técnicas’ xamanicas como a imitação do movimento de animais nas suas cerimónias de Dikr.

Esta identificação com os animais também é feita na Anatolia turca onde os santos sufis são identificados a cervídeos, vivem em seu contacto e tomam a sua aparência. 
O santo sufi Geyikli Baba (Pai Cervo) cavalga um cervideo e vive na floresta com ele segundo a tradição.

Mas aqui o cervo não é um animal sagrado como nas culturas xamanicas da Sibéria que dele dependem como animal a caçar, é um ‘instrumento’ para o santo sufi-cervo  ‘guiar’ os seus adeptos para a via espiritual de união com o Divino como guia e iniciador.

O cervo, antes caçado pelo homem xamanico, agora é ele o caçador e salvador de almas.

                               Dança da garça Alévi                                   

Os ‘caçadores’ sufi  agora apenas imitam o voo da garça nas suas danças cerimoniais durante o Dikr, deixando de lado o ‘jogo’ dos espiritos xamãnico com objectivos de cura para , agora, apenas se concentrarem numa coreografia mistica que visa a fusão das almas no Absoluto Divino.

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