-- De onde vens e para onde vais ?
-- Venho de Deus na escuridão e para Deus vou na Luz.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

A Verdadeira Via

Um irmão da vizinhança do abade Poemen partiu um dia para o estrangeiro; e aí encontrou um anacoreta. Este era muito caridoso, e muitos vinham procurá-lo.

O irmão contou-lhe sobre o abade Poemen. Ouvindo falar da sua virtude, ele desejou vê-lo.

Depois do irmão ter regressado ao Egito, o anacoreta, algum tempo depois, levantou-se e veio do estrangeiro até ao Egito para casa do irmão que o tinha visitado. Ele tinha-lhe dito, com efeito, onde morava.

Vendo-o, o irmão ficou cheio de espanto e alegrou-se muito. O anacoreta disse-lhe: «Faz-me a caridade de me conduzires até ao abade Poemen.» E ele levou-o até ao ancião e apresentou-o dizendo: «É um grande homem que tem muita caridade, e que desfruta de grande estima na sua região. Eu falei-lhe de ti e, desejando ver-te, veio até ti.» Também o abade Poemen o recebeu com alegria. Saudaram-se um ao outro e sentaram-se.

O estrangeiro começou, a partir da Escritura, a falar das coisas espirituais e celestes. Mas o abade Poemen voltou a cara e não respondeu a nada. Vendo que ele não falava consigo, o outro foi-se embora entristecido e disse ao irmão que o tinha conduzido: «Foi em vão que eu fiz toda esta viagem. Porque eu vim ter com o ancião, e eis que ele não quer falar comigo.»

O irmão foi então ter com o abade Poemen e disse-lhe: «Abade, este grande homem veio por tua causa, ele que tem uma tão grande reputação no seu país. Porque é que tu não lhe falaste?»

O ancião disse: «Ele, é do alto e fala das coisas celestes, e eu sou de baixo e falo das coisas terrestres. Se ele me tivesse falado das paixões da alma, eu ter-lhe-ia respondido; mas se ele me fala das coisas espirituais, eu não sei nada disso.»

O irmão saiu então para lhe dizer: «O ancião não fala voluntariamente da Escritura; mas se a conversa for sobre as paixões da alma, ele responde.»

Cheio de compunção, o visitante regressou para junto do ancião e disse-lhe: «Que fazer, abade, porque as paixões dominam a minha alma?»

Voltando-se para ele, o ancião respondeu-lhe alegremente: «Desta vez, tu vens como é preciso; e agora, abre a boca sobre esses assuntos, e eu enchê-la-ei de bens.»

Grandemente edificado, o outro disse-lhe: «Verdadeiramente, tal é a verdadeira via.»

E regressou ao seu país dando graças a Deus por ter merecido encontrar um tal santo.

Sem comentários:

Enviar um comentário