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sexta-feira, 30 de julho de 2010

As Noites Escuras do Caminho -Parte 5


PARTE 5

Noite escura do Espirito

Purificação activa do Entendimento



Porque se tem de mortificar o Entendimento ?

Porque o Entendimento ( o nosso lado racional ) nos impede de ‘percebermos ‘ Deus,pois Deus está acima do racional .
A Fé esvazia o Entendimento , pois torna claro o que o Entendimento não alcança.

Moisés não ousava olhar para a sarça ( arbusto onde Deus surgiu ) porque sabia que o seu Entendimento não podia considerar –conceber Deus como convinha .

Elias cobriu o rosto perante Deus ( ou seja, cegou o seu Entendimento,a sua razão) pois não conseguia ‘ olhar coisa tão alta ‘ .

Aristoles dizia que da mesma forma que o sol deixa os olhos dos morcegos em trevas,assim sucede ao nosso Entendimento com a luz de Deus , que totalmente nos é treva.

A Fé como instrumento

A Fé será usada neste processo da travessia das Noites para mortificar uma das componentes do Espirito , o Entendimento ou Razão e o Caminhante deverá ser como um cego guiado apenas pelo seu bastão da Fé.

Mas Fé em quê ?

Fé nas directivas e recomendações que nos são dadas pelos Mestres espirituais , fornecidas abaixo ,e em quem nós depositamos confiança total .

Habituados como estamos a fazer ‘ o que vemos e queremos ‘ com o nosso entendimento, deparamos aqui com uma barreira a esse tipo de actuação .

S. João da Cruz oferece uma analogia para se perceber a situação .

Suponhamos um cego que ainda consegue ver um pouco .

Ele não se deixará guiar ,fácilmente , pelo seu guia , pois por pouco que veja , ele ‘quer’ escolher o seu caminho , porque ele não ‘vê’ outro melhor e quer impor a sua vontade ao seu guia que vê melhor que ele , arriscando-se a perder-se e a magoar-se pois está a confundir a sua falsa visão e a realidade .

Assim é a alma que caminha na Noite , se ela se agarrar a qualquer Entendimento , sentido ou mesmo algum sentimento de Deus ,ela não segue o seu verdadeiro guia, que é a Fé obscura e assim se desvia do Caminho.

Se ela procura ‘ver’ , então pelo contrário, ela se obscurece perante Deus tal como alguém que tenta olhar directamente para o Sol e fica cego pelo seu esplendor.

A alma deve apenas guiar-se pelas tenebras da sua Fé , pois a Fé é tudo o que lhe resta depois de ter perdido as suas experiências sensiveis e as suas sinteses pessoais .

O cego que consente ser guiado, não fica sózinho , ao seu lado terá a Fé como guia, que, como não é fruto de nenhuma elaboração humana , é a única garantia de confiança para atravessar esta parte da Noite .

Este processo de mortificação é sereno ou turbulento ?

Por vezes as satisfações e o entusiasmo iniciais desaparecem e até a propria Fé nos parece perdida o que cria um vazio e uma desorientação só suportáveis por quem acredita ‘cegamente’ que isso faz parte do Caminho.

Surgem sentimentos de revolta , angustia , de pânico,pois esperávamos encontrar, pelo menos, um Fio de Ariana , um sentido e nada !

Permanecemos como que a flutuar num oceano à deriva .
Desistir é impensável , quando a Fé permanece .

Aderimos a Algo que não concebemos , que não sentimos , com a Fé obscura como único guia e luz .

Como diz um poema de S.João da Cruz :

Apoiado em nenhum apoio ,
Sem luz, na noite escura ,
Consumo-me continuamente

O dinamismo desta indefinição , deste vazio , longe de eliminar a angustia da situação , ainda a aumenta , para quem está a jogar a sua propria existência .

Mas S. João da Cruz insiste que é a única via realista e que é preciso aderir sem procurar satisfações anexas .

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