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sexta-feira, 5 de março de 2010

O Caminho de Casa em versões Cristã e Muçulmana


Místicos em todas as tradições religiosas descreveram os diferentes passos na via que conduz a Deus pela imagem do Caminho.
A divisão cristã tripartida :
Via purgativa, Via contemplativa e Via illuminativa.
A divisão islâmica tripartida :
Sharia, Tariqa e Haqiqa( Marifa) .

A tariqa, o “caminho” no qual os místicos avançam, foi definido como “o caminho que resulta da sharia, pois a estrada principal é chamada shar, o caminho, tariqa".

Nenhum caminho pode existir sem a estrada principal da qual ramifica; nenhuma experiência mística pode se realizar se as injunções da sharia não são primeiro fielmente seguidas.

O caminho, tariqa, entretanto, é mais estreito e mais difícil de trilhar e leva o adepto – chamado salik, “itinerante” - em seu suluk, “itinerário”, através de diferentes estações (maqam) até talvez atingir, mais ou menos lentamente, sua meta, a perfeita tauhid, a confissão existencial de que Deus é Uno.

A via tripartida para Deus é explicada por uma tradição atribuída ao profeta: "A sharia são minhas palavras (aqwali), a tariqa são minhas ações (amali), e a haqiqa é meu estado interior (ahwali)". Sharia, tariqa e haqiqa” são mutuamente interdependentes:

“Beijar a soleira da sharia” é o primeiro dever de qualquer um que queira entrar no caminho místico.
Os poetas freqüentemente falaram em versos, e os místicos em pungentes sentenças, dos diferentes aspectos destes três níveis (algumas vezes marifa, “gnosis”, é substituída por haqiqa, “verdade”).

Assim é dito na Turquia:

Sharia: teu é teu, meu é meu.
Tariqa: teu é teu, meu é teu também.
Marifa: não há nem meu nem teu.

1 comentário:

  1. Caro Cristiano,
    Este é de facto um assunto muito interessante. Vários mestres da espiritualidade islâmica (sufismo) recorriam, para descrever estes três elementos, aos símbolos do “círculo” externo (sharî'a), do “raio” que liga o círculo externo ao centro interno (tarîqa) e do “centro” subjacente ao próprio círculo (haqîqa).
    As três vias cristãs acima referidas parecem ter também uma sonoridade familiar com os três modos de realização espiritual proclamados no hinduísmo: 1. karma-mârga (o “Caminho da Acção”); 2. bhakti-mârga (o “Caminho da Devoção ou Adoração”) e; 3. jñâna-mârga (o “Caminho do Conhecimento”). Creio que existem também alguns autores que comparam estes modos proclamados no hinduísmo com as três dimensões do Sufismo: 1. makhâfa (“Medo”); 2. mahabba (“Amor”) e; 3. ma’rifa (“Conhecimento” ou “Gnose”). Penso também que há quem reconheça no episódio em que Cristo é recebido na casa das irmãs Maria e Marta uma distinção entre o caminho n. 1 acima mencionado (o “Caminho de Marta”) e o conjunto das vias n. 2 e 3 também acima mencionadas (o “Caminho de Maria”).
    Parabéns pelo vosso blog e abraços.

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