Marguerite Porete -A Beguina do Amor

Marguerite Porete (1250-1310) 

 

Marguerite de Hainault, conhecida como "Porete", nascida em 1250, em Valenciennes e foi uma Beguina. 

Foi influenciada pelos escritos do Pseudo-Dionísio O Aeropagita .

Escreveu sua grande obra O Espelho das Almas Simples Aniquiladas , apresentando a teologia negativa do Pseudo-Dionisio , como um diálogo em que apresentava o Amor da Alma tocada por Deus, e fazia falar o Amor e a Razão em diálogos alegóricos.

Distinguindo três categorias na via espiritual, os dos “ativos”, “contemplativos” e aniquilados”, Margarida concebe todo o processo de realização de si como um processo de “aniquilamento” e considera existirem 7 niveis nesse processo .

1) morte do pecado
2) vida da graça (= virtudes, = ativos)
3) morte da natureza
4) vida do espírito (= amor, = contemplativos)
5) morte do espírito
6) vida divina (= nada, = aniquilados)
7) Paraíso (= Omniclaridade de Deus)


A alma deve passar por três mortes nesse processo :


Primeiro a do “pecado”, da qual nasce a “vida da graça”; depois a da “natureza”, da qual nasce a “vida do espírito”; finalmente a do próprio “espírito”, pela qual passa a viver "da vida divina".

O aniquilamento faculta a plenitude de uma Vida divina.

A alma passa das “Virtudes” ao “Amor”, do Amor” ao “Nada” e do “Nada” à “Omniclaridade de Deus”.

Aí, está a tal ponto “reposta” em Deus que não se vê nem a si nem a ele, o que faz com que Deus seja devolvido à liberdade e plenitude do seu ser e visão solitários, anteriores ao surgimento da alma, o que só é possível mediante a livre entrega desta.

Nada há agora senão Deus.

Essa reunificação divina é ainda, num sentido, uma experiência da alma e o “estado mais nobre” que ela pode conhecer na sua existência terrena, havendo outro, o “sétimo” estado, o “Paraíso”, “perfeito sem falha” após a morte fisica .

Nele é Deus que age nas almas sem elas.

A mística escreveu o livro "O Espelho das Almas Simples e Aniquiladas" por volta do ano 1290, o livro retrata o percurso místico até a união com Deus.

Na época, os exemplares encontrados foram apreendidos e queimados e Porete foi advertida sob pena de ser presa. 

Como a religiosa não obedeceu às ordens, foi encarcerada em 1309 e, por um ano e meio, se recusou a colaborar com os inquisidores.

Na sua obra falava numa igreja pequena , a oficial ,das almas comuns e numa igreja Grande formada pelas almas Aniquiladas , ora não é de estranhar os conflitos com a Igreja e a Inquisição da altura.

O livro foi queimado em 1306, e condenado de novo em París em 1309.

Margarida Porete foi condenada pela Inquisição em 31 de maio de 1310 e em 1º de junho de 1310, Porete foi queimada em praça pública, em Paris, como herege relapsa, pois havia sido avisada de que a Igreja não estava de acordo com suas idéias.

             PENSAMENTOS E DIÁLOGOS DE MARGUERITE PORETE

"A obra é coisa de Deus que a opera em mim. Eu não lhe devo obra alguma, posto que é Ele mesmo quem a opera em mim. Se pusera algo meu, prejudicaria sua obra".

"Oh Amado, Tu me tens possuído em teu amor, para dar-me teu grande tesouro, que é dar-te a ti mesmo, Tu, a divina bondade.

E se o coração não pode dizê-lo, um puro nada-querer o adivinha, Ele, que tão alto me tem feito subir, com uma união de coração a coração que jamais devo revelar".

“Pensar já nada vale aqui,
Nem agir, nem falar.
Amor me arrasta tão acima
- pensar já nada vale aqui –
Por seus divinos olhares,
Que não tenho nenhum desejo.
Pensar já nada vale aqui,
Nem agir, nem falar”.

A alma aniquilada despreza o ‘menos’ (aquilo que a alma tem em si de ‘criado’) e une-se ao ‘Mais’ (aquilo que a alma tem de incriado’ e até de ‘inacessivel’ à compreensão da própria alma aniquilada) .

Diálogo entre Razão e Amor.

Razão

- As almas Aniquiladas têm alegrias nelas mesmas ou fora delas ?

Amor :

- Não, porque a sua natureza está mortificada e o seu espirito morto. Elas não têm vontade própria que face a essa mortifcação reside apenas na Vontade divina.

Escuta Razão uma alegoria para perceberes melhor :

Aquele que arde não tem frio, aquele que se afoga não tem sede.

Ora esta alma está de tal forma consumida na fornalha do Amor que ela se tornou fogo , ela não sente o fogo , pois ela mesma é fogo pela virtude do Amor que a transporta no fogo de amor.

Daí as alegrias não estarem dentro nem fora dela ,pois ela mesma é pura alegria sem o saber.